quinta-feira, 30 de abril de 2009

A deliciosa leveza do ser


Estou me deliciando com a leitura do livro de Danuza Leão Fazendo as malas (Companhia das Letras, 2008). Trata-se da narração bem-humorada de uma viagem que Danuza fez à Europa e de suas impressões ao passar por Sevilha, Lisboa, Paris e Roma. São dicas de restaurantes, hotéis, lugares charmosos e outros endereços para fazer compras que dão imediatamente vontade de fazer as malas e, com passo firme e cabeça erguida, partir à conquista do Velho Continente, brandindo o cartão de crédito e clamando “abre-te Sésamo!”.

Não se trata de um desses cansativos guias de sobrevivência de globetrotters que acham que viagem rima com mochila nas costas, tênis e bolsos furados, e carona. Nem de um guia turístico cheio de inumeráveis informações onomatopeicas de hotéis, museus e restaurantes.

A viagem que Danuza propõe é um elegante passeio pelas riquezas culturais, arquiteturais e pela culinária desses lugares. Longe de ser frívolo, esse livro é um percurso eminentemente saudável, que nos proporciona um reencontro com nossos cinco sentidos.

Aliás, há algo proustiano no périplo de Danuza, nesse retrato de certa mundanidade, porém sem pedantismo, nessa arte do savoir-vivre. E ao nos juntarmos à autora, para conhecer pela leitura os lugares que visitou, as pessoas que encontrou, as comidas que saboreou, encontramo-nos “num tempo da delicadeza”, talvez aquele mesmo dos versos da canção de Chico Buarque “Todo o sentimento”. E essa é a qualidade da autora, a de tornar a leitura do livro uma viagem em si, no país da leveza e da delicadeza, algo raro nos tempos atuais.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Além da imaginação




Há uns dias atrás, li o artigo publicado por Brad Stone no New York Times do último dia 5 de abril intitulado ”Is this the future of the digital book?”, em que o jornalista esboça as perspectivas em relação às inovações na área editorial. Diante da crise que vem sofrendo o setor de publicação de livros, o mercado está revendo as formas de apresentação da matéria escrita.

O surgimento do livro eletrônico, hoje já comercializado em vários países no formato e-book com opções de download on-line, leva empresários e tecnólogos a se unirem para definir as novas configurações da mídia digital com o intuito de fazer do livro uma fonte de novas experiências, tornando o próprio e-book, no seu formato atual de simples meio de reprodução e divulgação de textos, algo logo obsoleto.

Assim, as novas perspectivas são de fazer com que o livro digital alie a clássica narração (ficcional ou não) a outros meios de comunicação, como vídeos ou Twitter, conectados a sistemas de leitura multifuncionais, como o iPhone, por exemplo, em que os leitores virtuais poderão interagir com a obra ou até tornar-se autores coletivos.

A combinação de textos, vídeos e redes de compartilhamento em uma única plataforma já está sendo preparada por várias empresas de tecnologia da informática, entre as quais a Vook (
www.vook.tv), cuja meta é providenciar em uma única ferramenta de distribuição soluções tecnológicas completas, com o objetivo de que a leitura se torne uma experiência mais rica e virtualmente compartilhada entre autores e leitores.

Ao eliminar de vez o caráter unidimensional dos livros no formato em que se encontram atualmente (seja livro físico, seja e-book), abrimos novas dimensões para a abordagem da narrativa (ficcional ou informativa) e da arte, em um debate que, a meu ver, vai muito além da questão prosaica, meramente redutora, de saber como driblar a perda de contato físico (prazeroso) com o objeto livro, seja tátil, visual ou olfativo (o estranho poder atrativo do cheiro do papel...).

Como declara Sara Nelson, consultora do setor editorial, entrevistada por Brad Stone: “Se você puser um vídeo dentro de um livro, ele deverá fluir de forma tão natural na história que os leitores nem percebam que estão mudando de meio de comunicação”.


Assim, não estamos mais no campo do conteúdo, mas no da forma. Deveremos mudar nossa abordagem do objeto “livro” até criarmos novas regras de utilização desse objeto de maneira que se tornem comportamentos naturais (ou seja, gestos inconscientemente executados) dentro de um fluxo informativo ou lúdico contínuo.

Mas, por outro lado, estamos diante de uma expectativa tão excitante quanto assustadora, porque nos conduz a mergulhar em um movimento irreversível de mudanças comportamentais que deverá nos levar progressivamente a relativizar ou até excluir do nosso vocabulário raciocinativo, intrinsecamente vinculado à noção de objeto, a palavra “livro”, da mesma forma que estamos progressivamente apagando o objeto “disco” de nosso cotidiano para substituí-lo por mp3 e download.

E, apesar de reconhecermos os efeitos positivos que essas mudanças estão trazendo para nós (a começar pelo fantástico crescimento da intercomunicação), não podemos deixar de sentir certa tristeza (mesclada ao medo da perda) ao desfazermo-nos aos poucos do sensório baseado na palpabilidade das coisas, o qual permanece por enquanto a matriz de construção de nossa perceptividade emotiva.

Aí surge a questão da recomposição de nossa afetividade mediante novos códigos de leitura ou novas ferramentas, em um futuro que já estamos conjugando no presente e que, por vezes, nos parece ainda distante, além de nossa imaginação. É um dos assuntos abordados pelo excelente livro O chip e o caleidoscópio – Reflexões sobre as novas mídias, obra coletiva organizada por Lucia Leão - Editora Senac SP (2005), que inclui notadamente o ensaio A interatividade e a construção do sentido no ciberespaço, de Eduardo Cardoso Braga, em que o autor declara: “A experiência do link não se resume à decodificação e construção de significativo cognitivo. Ela também é emoção, sentimento. [...] Os signos dispersos estão à espera de uma vivência e de uma nova organização construídas por um navegar que descobre e, ao descobrir, constrói o sentido”. http://www.lucialeao.pro.br/writings.htm

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Play it again, Sam - Marquis de Sade - Dantzig Twist

No meio dos anos 1970 o rock mudou de cara com a chegada do movimento Punk e, em seguida, de grupos que formaram o que se passou a designar como New Wave, em referência à Nouvelle Vague francesa dos anos 1960, por reinventarem o rock sessentista com acréscimos de influências mod, electro e funk. Entre eles, bandas com temáticas mais sombrias ou vinculadas à estética inspirada no Expressionismo alemão, como Siouxie and the Banshees, Joy Division ou Ultravox, mas também em correntes artísticas vinculadas à Pop Art e à cena nova-yorkina (principalmente as bandas descobertas no lendário clube underground CBGB).

Dessa profusão musical surgiram vários grupos e artistas na região de Rennes, na França, que acabaram por formar uma cena local com certa fama nacional que revelou pessoas que até hoje têm vez no panorama musical francês e europeu, como Etienne Daho.

Foi nesse contexto que apareceu o grupo Marquis de Sade, liderado por Philippe Pascal (voz) e Franck Darcel (guitarras), que, embora com carreira curta (1979-1981) e apenas dois álbuns lançados, tornou-se uma banda cult.

Com influências que mesclam judiciosamente artistas como Velvet Underground, David Bowie da fase berlinense, Talking Heads e até compositores clássicos como Erik Satie, Marquis de Sade lançou em 1979 seu primeiro disco, intitulado Dantzig Twist, pela EMI. O som intrigante do disco se destaca desde a primeira música, “Set in Motion Memories”. Linhas de baixo em evidência, acordes minimalistas de piano, solos raivosos e inebriantes de sax e tecelagem rítmica seca de guitarra de Franck Darcel constituem os ingredientes principais do clima de Dantzig Twist, aos quais se junta a voz de Phillipe Pascal, carregada de emoção (mas sem afetação).

As letras, em inglês, francês e alemão, destilam climas sombrios com temáticas vinculadas à angustia, às drogas, à submissão ou ainda à violência (assuntos bastante usuais na Europa inquieta do fim dos anos 1970), como em “Henry”, “Walls” ou “Skin Disease”. Cenários nevoentos em que se cruzam o fantasma de Conrad Veidt e espiões japoneses matizam canções como “Conrad Veidt”, “Japanese Spy”, “Nacht und Nebel”. Entretanto, o som de gravação ao vivo ou de garage band do disco desarma em parte esse lado mais opressivo e trás uma energia contagiante.

O fato é que essa estética musical tão peculiar, reforçada pelo desenho da capa do álbum, fez com que o grupo fosse indevidamente assimilado por alguns jornalistas ao fascismo, cuja ressurgência era notável nessa época social e economicamente conturbada. Porém, longe de qualquer fascistização, a banda retratava somente angústias comuns à juventude européia daquele momento e empregava uma estética então bastante corriqueira no visual das bandas punk e new wave.

No ano seguinte, Marquis de Sade lançou seu segundo e último disco, Rue de Siam, em que misturava elementos de new wave e funk com bastante complexidade musical. Menos impactante que o disco de estréia, porém com brilho inegável, o trabalho não agradou muito aos críticos e ao público, e a banda logo se separou. Philippe Pascal montou o grupo Marc Seberg, enquanto Darcel liderou a banda Octobre, que tiveram certa importância no cenário musical rock francês dos anos 1980.

Publicado originalmente em LP com 10 faixas, Dantzig Twist foi relançado em CD em 1989 com três faixas bônus. O disco hoje está fora de catálogo, mas as faixas estão disponíveis para download em sites de venda de música, além de o disco se encontrar em alguns sites de compartilhamento de arquivos e sites de sebos.

Para conhecer melhor o Marquis de Sade vá até: http://www.myspace.com/marquis2sade, que trás músicas e clipes ao vivo da banda.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A divina comédia - Da efemeridade dos fatos

Ao entrevistar Caetano Veloso no último dia 15, para o lançamento de seu novo CD, Zii e Zie, Luiz Fernando Vianna, da Folha de S.Paulo, perguntou se a música “A base de Guantánamo”, incluída nesse disco, não arriscava à caduquice diante da decisão de Obama de desmontar a base e reduzir as restrições políticas e econômicas em relação a Cuba: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u550845.shtml.

O cantor respondeu esclarecidamente: “A minha indignação não envelheceu, não pode nunca envelhecer. A canção não é uma noticia de jornal”...

A questão do obsoletismo da temática abordada por Veloso nessa canção e a resposta por ele dada à pergunta do jornalista levantam uma série de reflexões que, de certa forma, são intrinsecamente ligadas: 1) a natureza efêmera dos fatos do ponto de vista jornalístico e a consequente relativização de seu impacto a longo prazo; e 2) o esquecimento desses fatos e a negação de seu papel histórico e social como resultado dessa relativização.


É inegável que a proposta de Caetano Veloso vai além de uma simples denúncia do sistema carcerário de Guantánamo e das chocantes cenas de tortura e humilhação de prisioneiros políticos amplamente midiatizadas pela imprensa internacional durante o governo Bush. É também incontestável que o cantor não se limita a assinalar o simbolismo da violação dos direitos humanos pelos EUA em território cubano. Trata-se da manifestação do artista diante da contradição política de um sistema democrático que se veste da imagem de respeitoso e ardente defensor de valores vinculados aos direitos humanos, mas que utiliza as formas mais desprezíveis de desrespeito aos mesmos direitos humanos como manifestação de sua hegemonia.

Ora, o cantor não precisou fazer um discurso de sociologia política para expressar sua indignação. Pelo contrário, resumiu magnificamente sua reflexão em uma simples frase: “O fato dos americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar”, que ele repete ao longo da música como um leitmotiv. Porém, a relativização da letra de Veloso ao simples nível fatual constitui uma forma redutora de analisar o pensamento do autor.

Ao identificá-la como mera narração de um fato, corre-se o risco de limitar sua importância à sua pertinência jornalística, que, por natureza, é passageira, e implicitamente reduzir seu impacto a esse reduto de pertinência.

Assim, há uma negação implícita de toda dimensão maior (social, política ou simbólica) que a manifestação do artista possa ter, que a despe de seu brilho e de sua profundeza. Torná-la fatual faz com que ela verta também para o eventual, o corriqueiro, o fútil, o esquecível.

E, por extensão, existe o perigo latente de abrir uma brecha para sugerir a possível caduquice de toda obra, que, ao se referir a acontecimentos de determinada época ou situação, limitaria sua pertinência à duração dos eventos narrados. Então, por que não qualificar de caduca a música “Vai passar”, de Chico Buarque, já que decorreram mais de vinte anos desde o movimento “Diretas já” e o fim da ditadura militar? E para que ler o livro Arquipélago Gulag, de Alexandre Soljenítsin, se não existe mais União Soviética nem stalinismo?

Dessa forma, a limitação da compreensão do pensamento ao fatual logo se torna a justificação implícita do esquecimento coletivo que faz com que as novas gerações não saibam medir a importância sociocultural de inúmeros acontecimentos por falta de referencial histórico que lhes fale sobre esses acontecimentos.

O clipe ao vivo da música “A base de Guantánamo” pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=rXJQTGix-gc; Caetano Veloso comenta a música no próprio blog http://www.obraemprogresso.com.br/2008/06/19/caetano-veloso-comenta-a-musica-base-de-guantanamo/

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tiê – Sweet Jardim

A cantora paulistana Tiê acabou de lançar seu primeiro CD, Sweet Jardim, em que mostra em 10 faixas todo o seu talento de compositora e cantora. Após ter obtido o Prêmio Fico do Colégio Objetivo e estudado canto em Nova York, Tiê ingressou na banda de Toquinho e criou o projeto Cabaret, em parceria com Dudu Tsuda, que lhe deu certa visibilidade no meio musical de São Paulo.

Com delicadeza comovente, Tiê escreve canções cuja aparente ingenuidade é apenas um estojo para deixar fluir imagens e sensações realçadas por letras que contam histórias individuais e de relacionamento em que a cantora é quase sempre a protagonista. A instrumentação, principalmente com violão e piano, é desprovida de qualquer supérfluo para permitir uma melhor atenção do ouvinte às histórias que Tiê conta em sua voz afinadíssima. Trata-se de um trabalho extremamente intimista, que remete à tradição acústica da canção brasileira, mas também conversa com outros artistas internacionais que seguem esse caminho, como, por exemplo, Yael Naim.

Assim, como não sorrir carinhosamente ao ouvir o delicioso retrato que a cantora faz de si mesma na canção “Passarinho”: “Como um brotinho de feijão, foi que um dia eu nasci. Despertei, caí no chão e com as flores cresci. E decidi que a vida logo me daria tudo, se eu não deixasse que o medo me apagasse no escuro. Quando mamãe olhou pra mim, ela foi e pensou, que um nome de passarinho me encheria de amor. Mas passarinho, se não bate a asa logo pia, e eu, que tinha um nome diferente, já quis ser maria. Ah, como é bom voar”.

Que idéia genial ter realçado a música “Chá verde” com um “coro dos queridos” para lhe dar um clima mais festivo. Sem esquecer a deliciosa “Aula de francês” ou a belíssima “Assinado eu”, que introduz o disco e em que Tiê confessa: “Eu fico esperando o dia que você me aceite como amiga, ainda vou te convencer. Eu sei. E te peço, me perdoa, me desculpa que eu não fui sua namorada, pois fiquei atordoada, faltou o ar, faltou o ar. Me despeço dessa história e concluo: a gente segue a direção que o nosso próprio coração mandar, e foi pra lá, e foi pra lá”.

Dois sites oferecem maiores informações, além de músicas e vídeos da cantora:
www.tiemusica.com e http://www.myspace.com/tiemusica

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A divina comédia - A sina do ensino



Foi com muito interesse que li, na Folha de SP de 08 de abril, o artigo de Marcelo Coelho sobre o filme Entre os muros da escola, de Laurent Cantet. http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br/ Esse filme, que conquistou a Palma de Ouro em Cannes em 2008 e fez muito sucesso na França, seu país de origem, expõe sem nenhum disfarce a conturbada relação entre um professor e seus alunos em uma classe de um colégio público do 20º arrondissement (distrito) de Paris. Os conflitos são ainda mais exacerbados porque a classe é multirracial, composta por alunos de diferentes etnias, culturas e religiões (árabes, africanos, antilhanos, asiáticos, além de europeus).

Entretanto, se o sociólogo e jornalista reconhece que “uma política centrada nas ‘diferenças’, nas ‘identidades’ sem dúvida terminaria fragmentando demais a sociedade”, constata também “uma falta assustadora de flexibilidade e de afeto” que “destrói por dentro aquele sistema educacional organizadíssimo – e cego para as necessidades de cada ser humano, aluno ou professor”.

A meu ver, a análise de Coelho não deixa de ser pertinente, embora não contemple todos os fatos históricos e culturais que levam o sistema educacional francês ao colapso apresentado no filme.

É imprescindível lembrar que o ensino fundamental francês é enraizado nos princípios de um sistema educacional laico elaborado no fim do século 19. De fato, vigora até hoje a idéia segundo a qual a escola deve ser “gratuita, laica e obrigatória”, defendida por Jules Ferry, ministro da Educação e presidente do Conselho da Terceira República da França entre 1879 e 1885. Além disso, a “instrução” (e não a “escolarização”) tornou-se obrigatória. Isto é, independentemente do lugar em que estiverem estudando, todas as crianças deverão obrigatoriamente passar pelo funil de um ensinamento padronizado de normas e matérias que incluem, entre outras, a instrução cívica e moral.


No filme de Cantet, podemos perceber o quanto essas regras de padronização do sistema educacional continuam totalmente aplicadas hoje. Assim, o professor parece incapaz de fugir dos moldes e limites do programa educacional obrigatório definido pelo Ministério da Educação, e tenta “ensinar” a poesia de Rimbaud a alunos que mal conseguem se expressar em um francês básico se este não for temperado por gírias e expressões que servem como parâmetros de identificação tribal (ou seja, de alcance ainda menor do que se fossem expressões étnicas) e são totalmente desprovidas da possibilidade de comunicação e/ou intercâmbio com quem não for membro da tribo.

(elenco do filme Entre os muros da escola)

Por outro lado, e como o destacou judiciosamente Coelho, quando se percebe um começo de comunicação, ou seja, quando “uma pequena luz brilha nos olhos do aluno indolente”, mesmo que hesitante, ela é imediatamente apagada pela retórica intragável do sistema educacional e das ferramentas socioeducativas de que se serve o professor. O despertar do interesse nunca será visto ou reconhecido como o primeiro sopro de criatividade ou o primeiro passo de um crescimento individual, mas deverá imediatamente atender à cobrança comportamental do estudante para se tornar bom aluno, isto é, aquele que absorve as informações recebidas – e nelas se espelha – no intuito de apresentar resultados satisfatórios dentro dos critérios acadêmicos de avaliação de desempenho. Esse conceito é invariavelmente destinado a fracassar.Contudo, há de se perguntar se o fracasso do sistema educacional retratado pelo filme é intrinsecamente vinculado ao meio socioeconômico em que se ministra o ensino, ou se podemos generalizar esse insucesso ao sistema como um todo.

É incontestável que os maiores conflitos registrados no sistema educacional francês acontecem principalmente em instituições de ensino que atendem meios socialmente críticos ou se situam em regiões economicamente desfavorecidas. Outros cineastas antes de Cantet narraram as dificuldades e os conflitos vividos por professores e alunos, como, por exemplo, Bertrand Tavernier em Quando tudo começa (1999). Por sua vez, o filme de Cantet mostra de forma clara que a impossibilidade de comunicação que existe entre professor e alunos também é flagrante entre os próprios alunos, e atinge o núcleo familiar desses jovens. Aí a incomunicabilidade se torna um fator agravante porque generalizado, que transborda os muros da escola para atingir a sociedade como um todo. Percebemos muito bem esse problema na cena em que a mãe de um aluno, africana, convocada a comparecer perante o conselho de disciplina da escola que vai decidir sobre a possível expulsão de seu filho, precisa do auxilio desse mesmo filho (ou seja, do acusado) para entender o que lhe está sendo dito e perguntado, pelo simples motivo de que ela não fala uma só palavra de francês (e, por extensão, não entende o que está fazendo nessa reunião, nem a importância sociossimbólica desse conselho dentro da estrutura educacional francesa).


Agora, ao assistirmos ao filme A bela Junie (2008) de Christophe Honoré, não percebemos os mesmos conflitos. Não somente porque o roteiro não trata desse assunto, mas porque a história se passa em um colégio de um dos arrondissements mais ricos da Paris, cujos alunos pertencem todos a famílias de classe A ou B e não parecem ter problema de identificação com os programas de ensino dessa escola, em que são até ministradas aulas de italiano e organizadas viagens culturais internacionais. Dessa forma, mesmo que o filme retrate crises pessoais e existenciais, de modo algum se percebe, entre alunos e professores, qualquer zona de conflito que se fundamente em uma incompreensão das matérias ensinadas ou que seja resultado da impossibilidade de comunicação entre os vários grupos distintos e constitutivos do núcleo escolar em que se desenrola a trama.


Percebemos assim, em outras palavras, que a adequação do sistema educacional às aspirações e metas de determinados grupos socioeconômicos (e, consequentemente, culturais) depende da identificação desses grupos com o formato e o conteúdo do ensino.

Então, a escola que não for dinâmica, flexível e progressista corre o risco de não ser a matriz que servirá para moldar as futuras gerações às necessidades evolutivas da sociedade. Pois a França, por ter-se transformado em uma sociedade multirracial (com a migração em massa de diferentes etnias devido ao fim do colonialismo nos países da África e também em razão dos fatores socioeconômicos da Europa oriental e mais recentemente da Ásia), deve continuar a adequar progressivamente seu sistema educacional para responder às mudanças geradas por essa evolução.

De outro modo, a escola que se tornar uma simples incubadora, cuja função for meramente assegurar a transmissão inabalável, controlada e predeterminada de estigmas socioculturais de identificação de determinado grupo como se fosse uma preciosa herança, acabará por fracassar quando se deparar com algo (ou alguém) fora dos padrões. Consequentemente, quem não pertencer a esse grupo deverá adaptar-se, a todo custo, ou será descartado, porque o maquinário atende padrões determinados pelo grupo dominante.

Dessa maneira, entendemos melhor a origem dos conflitos retratados pelo filme de Cantet, principalmente no que diz respeito à impossibilidade de o professor (e de todo o sistema escolar, nele representado) se comunicar com alunos que são nada menos que os componentes da futura sociedade francesa.

Por outro lado, percebemos no filme o quanto esses componentes da futura sociedade também são contraditórios, fragmentados e geradores de conflitos. E podemos vislumbrar objetivamente os motivos que levam o sistema educacional a não ser tão flexível e evolutivo, como se, pela rigidez que demonstra, fosse o guardião simbólico da coesão nacional.

Portanto, diante da dificuldade de reversão desse quadro ou de soluções que emanem do sistema educacional em si, outras saídas tem sido tentadas. Como acontece de forma cada vez mais corrente não somente na França mas no nível mundial, soluções diferenciadas de educação têm sido encontradas em estruturas nem estatais nem acadêmicas (como associações, ONGs, etc.) que oferecem formas alternativas, flexíveis e poligonais de ensino, mais adequadas às demandas da sociedade plural.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Afeto na arte e arte da afetação

Acabou de ser lançado na Europa o 1º disco do cantor francês Sliimy, intitulado Paint Your Face. Sliimy ficou conhecido por ter regravado e divulgado pelo site YouTube, a exemplo de Lily Allen, a canção “Womanizer” de Britney Spears. Recentemente, fez seu coming out na televisão francesa e sua orientação sexual está nitidamente celebrada ao longo desse disco. Entretanto, mesmo que tudo isso não passe de uma hábil campanha de divulgação, há de se reconhecer que esse primeiro trabalho é muito agradável. Cumpre totalmente sua tarefa de ser um disco perfeito para alegrar a chegada da primavera européia ao misturar com certo êxito os ingredientes musicais e figurativos que fizeram o sucesso dos primeiros trabalhos de Mika e Lily Allen (definitivamente uma referência para Sliimy). Vejam o clipe bem divertido do primeiro single, ”Wake up”, no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=pccguTaYDLQ&feature=related

Todavia, voltando às declarações de Sliimy que repercutiram positivamente para a divulgação do disco, há de se reconhecer que a arte da afetação sempre foi uma forma recorrente de expressão do afeto na arte. E se a evolução da moral e dos costumes, embora ainda imperfeita, permite e favorece a revelação da orientação sexual (mesmo que ainda reservada a certa “elite” sócio-econômico-cultural e ritualizada pelo coming out batismal), sempre houve uma absolvição subjacente do público para quem se vestisse de uma aura de afetação no intuito de representar sua arte e, consequentemente, transmitir suas emoções.

E se os reis europeus da Renascença e do Século das Luzes não hesitavam em enfeitar-se com joias, plumas, bordados, perucas, além de maquilagem, em uma ostentação de poder e riqueza teatralizada de forma pavonesca, alguns de nossos astros atuais, independentemente da expressão artística que escolheram, utilizam-se de símbolos semelhantes a fim de convidar a audiência a coroá-los e até sacralizá-los por meio de rituais pagãos, como é caso de Ney Matogrosso, Cauby Peixoto, John Galliano ou Freddie Mercury, entre outros.

Justamente porque a representação teatralizada dessa coroação funciona como um artefato que desnatura o próprio ato, ou seja, torna-o não natural e meramente representativo e simbólico, há uma aceitação ampla da afetação por parte do público, que vai além de todos os preconceitos sexuais e desarma qualquer ironia ou zombaria. Por outro lado, essa afetação, por ser ousada, funciona como uma rebeldia moral e sexual transgressiva com a qual o público se identifica de forma prazerosa.

Se seguirmos esse raciocínio como vetor, ao percorrermos as variantes da expressão da afetação dentro do ritual da representação artística, perceberemos que, por trás das diferentes formas de representação, existe uma analogia na finalidade do ato que é apenas a manifestação apurada do afeto por meio da arte.

E finalmente, ao se utilizar da afetação, o artista mostra seu afeto, despindo-se aos poucos, até ficar nu diante do público. E assim, ao mostrar sua própria nudez por meio da afetação, que em si é uma forma exacerbada da manifestação da emoção, ele acaba por magnificar sua própria emoção e conquistar o afeto do público em retribuição a esse ato de total entrega.

Para outras informações, recomendo os seguintes sites: http://www2.uol.com.br/neymatogrosso/; http://www.cauby.com.br/; http://www.mikasounds.com/; http://www.myspace.com/sliimy; http://www.johngalliano.com/

Contagem regressiva...


Em 8 de maio, daqui a exatamente um mês, estreia simultaneamente nos cinemas do Brasil e dos Estados Unidos o novo Jornada nas estrelas. Após certo desgaste da imagem da franquia, que levou os produtores a suspender qualquer outro projeto por alguns anos, o novo filme, dirigido por J. J. Abrams (entre outros, produtor de Lost e diretor de Missão: impossível III), promete surpreender tanto pelo aspecto visual, com incríveis efeitos especiais, como pelo fato de ser uma prequel ou gênese da primeira série televisiva, que pretende narrar a iniciação de James T. Kirk na Academia da Frota Estelar e as aventuras que fizeram com que se tornasse capitão da nave USS Enterprise.

Obviamente, não faltarão também os demais membros da tripulação original, como Spock, o Dr. Leonard McCoy e a bela Uhura. Como fã de carteirinha da franquia, eu não podia deixar de anunciar essa contagem regressiva, e estou torcendo para que o filme seja um êxito, dando início a novas sequências e séries!


Para maiores informações, nada melhor que o site oficial do filme com trailers, inclusive em formato HD, galeria de fotos, etc.: http://www.startrekmovie.com/
Vida longa e prosperidade!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Limão na salmoura

Trata-se de uma receita tradicional de conserva dessa fruta. O limão na salmoura é muito utilizado em receitas do Norte da África, principalmente de Marrocos, e faz parte dos ingredientes da receita de tajine à brasileira que publiquei neste blog. Fácil de preparar, também dá um toque especial a outras receitas, notadamente de frango, peixe ou até saladas.

Antes do preparo, verifique se os limões cabem no vidro. Do contrário, reduza a quantidade de limões e demais ingredientes proporcionalmente ou divida a preparação em mais vidros.

A pimenta-do-reino é facultativa, mas eu a recomendo porque dá um toque especial ao preparo. Deve ser triturada ou apenas grosseiramente moída.

Ingredientes

- 8 limões sicilianos orgânicos
- 1 recipiente de vidro de 500 ml com tampa, fervido e esterilizado
- 80 g de sal grosso
- 1 colher (sopa) de coentro em grãos
- 1 colher (sopa) de pimenta-do-reino em grãos triturados ou grosseiramente moídos
- 1 colher (chá) de pimenta-branca em grãos
- sumo de 1 limão
- ½ litro de água fervida morna

Preparo

Mergulhe o vidro durante 15 min em água fervente para esterilizá-lo.

Esprema um limão e reserve o sumo.

Lave os limões restantes, esfregando-os com uma escova (se os limões não forem orgânicos, recomendo que sejam mergulhados alguns instantes em água fervente para eliminar qualquer rastro de agrotóxicos).

Com uma faca bem afiada, faça quatro incisões iguais, em forma de gomos, na casca de cada limão, sem chegar às pontas da fruta nem à polpa.

Com a ajuda de uma colher, preencha delicadamente cada fenda com sal grosso e pimenta-do-reino triturada, indo do centro até as pontas.

Coloque os limões no vidro junto com os grãos de coentro e de pimenta-branca. Acrescente o sumo de limão.

Cubra os limões com a água morna e coloque algum objeto (como uma xícara, por exemplo) sobre eles para fazer peso. Se necessário, esterilize antes esse objeto.

Feche bem o vidro e deixe descansar por 3 ou 4 semanas, antes de usar.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Esse tal de rock’n’roll


Ao folhear a revista Monet de abril na esperança de encontrar alguma novidade ou curiosidade que não fosse o anúncio da milésima reprise de histórias de bruxinhos ingleses ou heróis americanos aracnoides, deparei-me com a entrevista do veterano roqueiro Gene Simmons, da não menos veterana banda Kiss.

Surpreendi-me ao ler com certo interesse esse rápido bate-papo, não que eu seja, nem de longe, aficionado desse grupo, cujas músicas com cadência de square dance, guitarras estridentes e letras primárias, tocadas em ambiente de Circo Máximo, com direito à pirotecnia e cuspes de sangue, nunca me empolgaram. Pois bem. No fim da entrevista, Gene Simmons declara que o rock morreu no sentido de que bandas como Nirvana ou Soundgarden, que lideraram o movimento Grunge, apesar de incontestável qualidade musical, teriam afugentado a molecada desse gênero musical ao se apresentarem no palco feito mendigos. Simmons considera que a juventude, na busca de novos heróis, teria migrado para o rap, cujos ídolos seriam, de certa forma, os últimos representantes do imaginário rock feito (nas palavras dele) de “carrões, garotas peitudas a tiracolo e cordões de ouro no pescoço”.


Embora redutora, há de se reconhecer certo valor na análise de Simmons. Não no que diz respeito ao fim do rock em si, mas à sua inevitável evolução e, consequentemente, às mudanças relativas a seus valores, seu imaginário e seu público.


É incontestável que os clipes de rap ou hip-hop apresentados por canais musicais como MTV utilizam, de forma quase sistemática, elementos como carros esportivos ou limusines, garotas com formas mais do que vantajosas, mansões, joias, festas, bebidas, drogas em uma duvidosa luxúria. Cantores de rap e hip-hop gostam de exibir músculos, relógios, dinheiro ou qualquer outro artefato que possa lhes dar certo estatuto social de novos ricos deslumbrados, como no clipe de 50 Cent "Window Shopper http://www.youtube.com/watch?v=74nylouvtYc, por exemplo, inclusive e principalmente se esse estatuto se prevalecer de amizades com a bandidagem (ver nesse sentido o clipe "Go DJ" de Lil Wayne http://www.youtube.com/watch?v=u3dIP1jnu4Q). As cantoras, por sua vez, são provocantes e oferecidas, para não dizer devassas, e ostentam igualmente joias, roupas de grife e carros esportivos.

O rock, por outro lado, tende a mostrar uma face mais respeitável e comportada, e não é de surpreender que as bandas mais conceituadas de hoje, tanto pelo público quanto pela crítica especializada, como Radiohead ou TV On The Radio, estejam mais preocupadas com temáticas vinculadas aos direitos humanos ou ao aquecimento global do que com o esbanjamento de riquezas e atributos.

Ora, se voltarmos à essência do imaginário que o rock representou durante várias décadas, desde os requebros eróticos de Elvis até a trajetória trágica de Kurt Cobain, passando pelas viagens “iniciatórias” dos Beach Boys ou dos Beatles, devemos reconhecer que essa vertente da música se espelhou em revoluções sociais, sexo, drogas, bebidas e muito dinheiro.


Mas parece que estou falando de outros tempos, narrando fatos históricos que não condizem mais com nossa realidade. Será isso mesmo? O rock e seu imaginário são fatos históricos a serem compilados em enciclopédias e visitados em museus ou apenas houve um deslocamento de valores e comportamentos de uma corrente musical para a outra?

A meu ver, houve uma recuperação, pela turma do rap e hip-hop, de um folclore que não pertence obrigatoriamente ao rock ou a qualquer outra corrente musical, mas que diz respeito à idade dessas correntes. Ou seja, o imaginário vinculado à aquisição inebriante de certo poder representado por bens materiais, sexo, drogas ou qualquer comportamento que seja a manifestação simbólica e provocadora de insubordinação em relação a normas preestabelecidas e por essência restritivas é apenas uma fase evolutiva da manifestação artística.

Afinal, podemos ver semelhanças muito claras de comportamentos entre a representação do imaginário rock e o do rap.

Por exemplo, como podemos julgar com desdém a representação das mulheres nos clipes de rap atuais e não lembrar que há quase 30 anos os Rolling Stones ilustravam a música “She was hot” http://www.youtube.com/watch?v=GwRLy_nD7mg com uma garota que cuspia fogo pelo traseiro? Nada mais machista! Ademais, esse clipe é em si uma síntese de todos os elementos simbólicos dos clipes de rap atuais, como mansão com decoração cafona, bebidas, fumo e sexo. Aliás, na mesma época, garotas peitudas e pouco vestidas rebolavam à vontade nos clipes de bandas de rock como Van Halen. No encarte do disco Jazz, o Queen fez a apologia de garotas de bumbuns grandes andando nuas de bicicleta (que bom gosto!), enquanto Elton John ostentava sem nenhum pudor propriedades, roupas e joias, como no clipe da música "I Still Standing" http://www.youtube.com/watch?v=EpSwO0aJKHA.

Da mesma forma, como podemos julgar negativamente a perdição de uma Amy ou Britney e não lembrar as loucuras de um Keith Moon, as bizarrices de um Syd Barrett, as provocações de um David Bowie ou de um Johnny Rotten? E como criticar a juventude que se identifica com Tupac Shakur, símbolo e mártir do gangsta rap, se, em outros tempos, sentimos também alguma identificação com Syd Vicious, símbolo e, de certa forma, mártir do movimento Punk?

E não há como limitar essa análise ao rock e o rap, já que, como eu disse antes, trata-se de manifestações comportamentais que dependem da idade da própria corrente musical, dos seus representantes e do seu público. Assim, vale a pena lembrar, por exemplo, que em outubro de 1955 o público do Olympia, em Paris, quebrou as poltronas ao enlouquecer com o suingue do saxofonista americano Sidney Bechet. Que Billie Holiday se entregou fatalmente às drogas bem antes de Hendrix saber tocar os primeiros acordes de guitarra. Já em 1877, a ópera Sansão e Dalila, de Saint-Saens, por ser considerada provocadora (e, portanto, ofensiva), foi vaiada pelo público, assim como o foi Villa-Lobos na Semana de Arte Moderna de 1922, no Municipal de São Paulo. E quem não se lembra da rebeldia protopunk de Mozart, admiravelmente retratada por Milos Forman em Amadeus?

Sendo assim, não há porque declarar que o rock morreu. Ele apenas se tornou coisa de gente grande, ou seja, ele atingiu outro patamar dentro da história da música, veste-se agora de outros valores e manifesta novos comportamentos. Isso se mostra claramente na escolha unânime do Radiohead como melhor banda de rock atual. Aliás, disserta-se muito sobre a verdadeira natureza da música desse grupo cujas influências musicais são múltiplas e que, por sua vez, influencia também outros artistas, entre os quais músicos de jazz como Brad Mehldau. E ao ver o público do show do Radiohead, percebemos verdadeiro êxtase, quase místico ou religioso, mas também uma grande atenção, quase reverencial, que faz com que essa audiência se aproxime mais do que poderíamos esperar de um público de jazz ou de música clássica.


E enquanto eu estava elaborando a presente matéria, li com muito interesse a crônica de Álvaro Pereira Júnior no caderno Folhateen da Folha de SP de 30 de março, em que ele fala de duas revistas dedicadas à música, a americana Blender, que está morrendo, e a inglesa Word, que vê seu público crescer significativamente. O mais interessante é que a revista Word é destinada a um público acima de 35 anos de idade, enquanto a outra é mais dirigida ao público da faixa de 18 a 34 anos. Além da conclusão mordaz sobre “revistas de moleques e de tiozinhos”, o que me chamou a atenção nesse artigo é o comentário do jornalista sobre os motivos que o levam a gostar muito da revista Word: “São caras mais velhos que acompanham bem de perto tudo o que acontece, sem embarcar cegamente no último hype. Atualizados e adultos ao mesmo tempo. Minha praia”.

Esse comentário, além de ir ao encontro do artigo que escrevi sobre ser ou não ser antenado e a necessidade compulsiva de armazenar informação, http://metreno.blogspot.com/2009/03/divina-comedia-ignorantus-ignoranta.html confirma plenamente o que acabei de desenvolver, ou seja, que o rock está seguindo naturalmente um processo de amadurecimento no qual redefine valores e comportamentos que vão ao encontro da evolução igualmente natural de seu público.