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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Les Girls

Apesar de o ambiente musical estar cada vez mais americanizado, ‘beyoncezado’ e ‘britneyzado’ (isso dói!), existem ainda cantos de criatividade em que melodia não rima obrigatoriamente com batidas frenéticas e afinação vocal com voicoder. As três cantoras seguintes, embora à primeira vista não apresentem nada em comum, merecem ser destacadas pela qualidade do trabalho que produzem e por, de várias formas, tecerem mais uma ligação entre o Brasil e a França.

Barbara Carlotti está se apresentando esta semana nos palcos de São Paulo dentro da programação do Ano da França no Brasil. Após um primeiro disco, Les lys brisés (Os lírios partidos), que foi muito bem recebido pela critica, Barbara Carlotti lançou em 2008 o CD L’idéal, que foi consagrado entre as melhores produções francesas daquele ano. O trabalho da cantora mistura com perfeita harmonia a tradição literária francesa com a música pop anglo-saxônica, o que fez com que Carlotti fosse comparada à cantora Nico. Barbara Carlotti se apresentou no Bourbon Street e tem ainda dois shows marcados para os dias 5 e 6 de agosto, no Sesc Vila Mariana e no Sesc Santo André.

Não é mais necessário apresentar Zélia Duncan. A cantora vem desenvolvendo com serenidade e muito bom gosto uma carreira sempre original e pessoal, em que sabe equilibrar composições pessoais, influências (entre as quais o legado fundamental de Itamar Assumpção) e projetos originais, como a participação na reunião dos Mutantes ou a parceria com Simone. Zélia acaba de lançar seu novo trabalho, Pelo sabor do gesto, produzido, entre outros, por John Ulhoa, da banda Pato Fu. O disco tem a particularidade de apresentar duas ótimas versões que Zélia escreveu para canções que o compositor francês Alex Beaupain fez para o filme de Christophe Honoré Canções de amor, que obteve o César de melhor trilha original em 2008. Inspirando-se tanto na chanson tradicional quanto no som dos anos 1980 ou ainda no jazz, Beaupain está se impondo como um dos mais originais compositores e intérpretes da nova geração francesa.

Por sua vez, a cantora Céu está lançando seu segundo trabalho, denominado Vagarosa. Após um primeiro disco particularmente elogiado e que teve ótima divulgação, Céu volta com um trabalho que segue a mesma linha. As composições, essencialmente inspiradas na música popular brasileira, são otimamente servidas por modernos arranjos e pela utilização de grooves climáticos. A voz de Céu tece uma envolvente teia em que o ouvinte se deixa prender com o maior prazer. Embora profundamente brasileiro na sua essência, o trabalho de Céu remete também a uma tradição mais européia de conceber o canto e a música. Além disso, referências como Massive Attack ou Serge Gainsbourg são onipresentes. Aliás, não é de surpreender que, assim como Cibelle, Céu tenha sido descoberta e lançada na Europa antes de aportar na mídia brasileira.

O site de Barbara Carlotti é www.barbaracarlotti.com além da página MySpace www.myspace.com/barbaracarlotti.

As informações sobre o novo disco de Zélia Duncan encontram-se no site http://www2.uol.com.br/zeliaduncan/ e quem quiser conhecer melhor Alex Beaupain pode acessar www.myspace.com/alexbeaupainpop.

Músicas do novo disco de Céu podem ser ouvidas na página http://www.ceumusic.com/ além das informações disponíveis no www.myspace.com/ceuambulante

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Eventos Culturais 2

Voltando ao assunto do Ano da França no Brasil, não posso deixar de parabenizar a iniciativa de descentralização da programação, que passa por muitos estados e cidades e não se limita ao clássico eixo cultural Rio de Janeiro–São Paulo.

Assim, o estado de Minas Gerais vai receber vários eventos culturais até o mês de novembro que vale a pena conferir:

A cidade de Juiz de Fora está recebendo até o dia 28 de julho o 20º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. Entre outros, no dia 24, na Igreja do Rosário, a apresentação do conjunto Le Poème Harmonique, com obras de Michel R. de Lalande e Marc Antoine Charpentier; e no dia 25 de julho, no Teatro Pró-Arte, o Grupo Lune et Soleil, composto por músicos brasileiros e franceses de formação erudita e jazz, que interpretará músicas do cinema francês, de Michel Legrand e Vladimir Cosma, e obras de Gershwin.

(Le poème Harmonique)

Juiz de Fora também receberá, de 3 a 8 de agosto, apresentações de rua, como a Compagnie La Truc / Cyril Hernandez, e em novembro a turnê Déclic – Minifestival de Música de Câmara Francesa.

Vários eventos vão acontecer ainda em Minas Gerais, principalmente nas cidades de Belo Horizonte e Ouro Preto.

Entre os outros estados contemplados nas comemorações, vale destacar Bahia, Pernambuco, Ceara e Amazonas, no Norte e Nordeste, e estados mais acostumados a receber eventos internacionais, como Paraná e Rio Grande do Sul, e o Distrito Federal.

Assim, de maio a outubro deste ano, Michel Legrand irá se apresentar com Sinfônicas Brasileiras em São Paulo, Ribeirão Preto (SP), Salvador (BA), Recife (PE), Belém (PA), Cuiabá (MT), Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES).

Além de eventos culturais, o Ano da França promove encontros temáticos, vinculados a assuntos que dizem respeito a tecnologia, profissionalização, ciências, etc. Assim, vale destacar o I Fórum Franco-Brasileiro, "Ciência e Sociedade - Biodiversidade, Saúde, Desenvolvimento Sustentável Para Todos", que acontecerá em Macapá (Amapá), de 16 a 23 de outubro.

Por fim, o músico Edgard Scandurra e o grupo Les Provocateurs estão fazendo uma série de apresentações no Sesc Paulista, em que interpretam músicas de Serge Gainsbourg, simpática iniciativa que merece ser destacada.

Quem quiser acompanhar essa formidável profusão de encontros entre os dois países pode encontrar mais detalhes sobre datas, localizações e eventos no site http://anodafrancanobrasil.cultura.gov.br/ do Ministério da Cultura, que oferece um sistema de busca por tema, mês e estado.

A programação do Festival Internacional de Música Colonial e Música Antiga de Juiz de Fora se encontra no site http://www.promusica.org.br

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Eventos Culturais

O Ano da França no Brasil oferece várias oportunidades interessantes e lúdicas de melhor conhecer a cultura francesa. Assim, duas exposições chamaram mais especialmente minha atenção:

O Museu da Língua Portuguesa apresenta até o dia 13 de setembro a mostra O Francês no Brasil em Todos os Sentidos, em que são destacados os pontos de encontro entre os dois idiomas, não somente na literatura, mas também em várias áreas, como a moda, a culinária, a música ou a dança. Embora, a meu ver, um tanto sucinta demais, a mostra tem a vantagem de ser bastante didática e interativa, despertando o interesse dos visitantes. Além do mais, o Museu da Língua Portuguesa é um maravilhoso espaço cultural em plena Estação da Luz, dentro do ambicioso projeto de renovação do centro de São Paulo que, por si só, sempre merece ser lembrado.

O Instituto Tomie Ohtake, por sua vez, recebe até o dia 7 de setembro 84 obras de Jean Dubuffet (1901-1985), entre pinturas, esculturas, desenhos e litografias. Dubuffet foi um artista muito prolífico, cuja obra, que apresenta várias fases, é constituída por milhares de criações realizadas entre 1942 e 1985.

Considerado como um dos fundadores do Art Brut, termo inventado por ele, Dubuffet é mais conhecido pela fase intitulada ciclo Hourloupe, entre 1962 e 1974, caracterizada por traços em forma de quebra-cabeça ou rabiscos sobre fundo branco com espaços preenchidos por cores. Realizado inicialmente no formato de desenhos e pinturas, o ciclo Hourloupe ganha novas dimensões a partir do fim dos anos 1960, com a realização de esculturas e baixos-relevos arquitetônicos, e a utilização de novos materiais.

Conhecido também pelas surpreendentes pinturas e os retratos inspirados em desenhos feitos por crianças e doentes mentais, Dubuffet sempre foi atraído pela experimentação, a inovação e a audácia, oscilando entre figuração e abstração, em que a espontaneidade reina.

Para maiores informações sobre as duas exposições:

http://www.estacaodaluz.org.br/

http://www.institutotomieohtake.org.br/programacao/exposicoes/jean/jean.html

sábado, 20 de junho de 2009

Coralie Clément no Brasil

O Ano da França no Brasil traz aos palcos de São Paulo a cantora francesa Coralie Clément, que irá se apresentar na cidade no fim deste mês, no dia 23 no Bourbon Street e nos dias 26 e 27 no Sesc Pompéia.

Filha de músico e irmã do excelente cantor e compositor Benjamin Biolay – que, por sua vez, compôs “Jardin d’hiver” para Henri Salvador e já se apresentou no Brasil em 2008 –, Coralie Clément iniciou sua carreira discográfica em 2001, com o CD Salle des Pas Perdus, que teve ótima repercussão não somente na França, mas também em diversos países, como Alemanha ou Japão. Assim, a canção “Samba de mon cœur qui bat”, composta por Biolay, fez parte da trilha da comédia romântica Alguém tem que ceder (2003), com Jack Nicholson e Diane Keaton.

Trata-se de um disco bastante acústico, em que Coralie Clément não esconde suas influências musicais, entre as quais Serge Gainsbourg e cantoras como Françoise Hardy ou Jane Birkin.

Em 2005 ela lança seu segundo CD, Bye Bye Beauté (que teve edição nacional na época), de tonalidade mais rock, notadamente por causa da participação de Daniel Lorca, do grupo Nada Surf, que divide a produção do disco com Biolay.

Em 2008 é lançado Toystore, de novo produzido por Biolay, em que se destaca a canção ”C’est la vie”, além de dois duetos, “Je ne sens plus ton amour” com Etienne Daho e “Sono io” com Chiara Mastroinani. O disco remete ao ambiente acústico do primeiro CD e traz certa maturidade tanto no canto quanto nos temas abordados nas letras.

Vale conferir o universo de Coralie Clément, em que se encontram em perfeita harmonia a chanson francesa, o pop inglês e também a bossa nova.

O site da cantora http://www.myspace.com/coralieclment traz informações sobre sua carreira, além de algumas músicas do mais recente CD.

Para quem quiser conhecer também o universo musical de Benjamin Biolay, http://www.benjaminbiolay.com/ e http://www.myspace.com/benjaminbiolay

quinta-feira, 4 de junho de 2009

À procura de M. Gainsbourg

Na sua última visita ao Brasil, Charles Aznavour teria declarado a um jornal brasileiro que a chanson francesa é importante principalmente graças às letras, e não à música. A meu ver, o artista não deixa de ter razão e de ser omisso ao mesmo tempo. Há de fato grandes letristas, mas também grandes compositores de música popular francesa. Sem querer comparar com a música popular brasileira, que, a meu ver, em ambos os quesitos é inigualável, a canção francesa deixou suas pegadas na música popular internacional por meio de canções como “La mer”, “La vie en rose”, “Les feuilles mortes”, “Et maintenant” e, claro, “Je t’aime moi non plus” de Serge Gainsbourg.

Gainsbourg certamente foi o maior autor de música popular da França dos últimos 40 anos, e sua influência ultrapassou as fronteiras não somente do país, mas também da francofonia, para alcançar verdadeira dimensão planetária.

O Sesc Paulista apresenta uma exposição sobre o artista até o dia 7 de setembro, dentro das comemorações do Ano da França no Brasil, e acredito que, para quem ainda não o conhece, seja uma ótima maneira de ter uma primeira abordagem com esse artista complexo e múltiplo.

http://www.sescsp.org.br/

Gainsbourg nasceu em 1928, filho de judeus russos que migraram para a França na época da Revolução Bolchevique de 1917. Nos anos 1950, começou por se dedicar à pintura (sua grande paixão), para em seguida iniciar uma carreira de cantor crooner e pianista de cassino e de clubes noturnos. A cantora Michèle Arnaud, da qual foi músico no fim dos anos 1950, ao descobrir suas composições, incita-o a gravar os primeiros discos, bastante influenciados pelo jazz pós-guerra, e que fazem sucesso junto a um público restrito.

Entretanto, a inegável qualidade dessas canções faz com que Gainsbourg comece a compor para vários artistas da época, principalmente mulheres, entre as quais Juliette Gréco e Petula Clark. O sucesso mais amplo chega, enfim, com as canções “Comment te dire adieu”, cantada por Françoise Hardy, e “Les sucettes”, com France Gall, que são as premissas do encontro de Gainsbourg com o universo pop.

Em 1967, ele tem um romance com Brigitte Bardot, para a qual compõe algumas de suas mais famosas canções, como “Initials BB”, “Bonnie and Clyde” e “Harley Davidson”. Em 1968, ele encontra Jane Birkin, com quem ficará até 1978. Juntos eles gravam "Je t’aime moi non plus", sucesso planetário, composto primeiramente para Bardot. A atriz chegou a gravar a canção, mas se opôs ao lançamento comercial até 1986.


(Gainsbourg com Jane Birkin)

A partir desse momento, Gainsbourg alcança a fase áurea de sua carreira musical com o lançamento do disco mítico L’Histoire de Melody Nelson (1971), seguido por Vu de l’Extérieur (1973), Rock aroud the Bunker (1975) e L’Homme à la Tête de Chou (1976). Esses discos, se fizeram pouco sucesso de vendas na época, são hoje considerados obras essenciais não somente para a história da canção francesa como pela influência que têm junto a muitos artistas, entre os quais Beck, Moby, Placebo, Nick Cave ou Massive Attack, e outros.

Paralelamente, Gainsbourg se torna cada vez mais dependente do cigarro e do álcool – sofre um infarto em 1973 – e tem um comportamento altamente provocador que choca a França ‘giscardista’ do fim dos anos 1970. Essa fase da carreira do artista, que seguirá até sua morte, em 1991, tem seu auge com o lançamento do disco Aux Armes et Cœtera (1979), produzido na Jamaica com os músicos de Bob Marley e em que ele grava a Marselhesa em versão reggae, com coro de cantoras jamaicanas no refrão. O disco se torna um grande sucesso comercial, mas Gainsbourg sofre ameaças de extremistas da direita e o próprio exército francês irá até impedir a realização de um show do artista. Nesses últimos anos, Gainsbourg vai criar um alter ego, chamado Gainsbarre, que será o duplo transgressivo do artista, como Dr Jekyll e Mr Hyde, dupla infernal que, aliás, foi musicada por Gainsbourg em uma canção dos anos 1960.

Além do talento de compositor, Gainsbourg mostra toda a sua verve como letrista, com letras altamente complexas, cheias de trocadilhos, duplos sentidos e certa ironia, herdada do escritor Boris Vian, que o influenciou muito. A temática erótica está frequentemente presente nas composições desde os anos 1960 até as últimas obras, como, por exemplo, em “Lemon incest”, que compôs para sua filha Charlotte Gainsbourg em 1985. Gainsbourg compôs também inúmeras trilhas de filmes e foi diretor de quatro longas-metragens e vários clipes. Até o fim da carreira, continuou compondo para outros artistas, como Vanessa Paradis (mulher de Johnny Depp), Alain Chamfort, Alain Bashung, mas também atrizes como Catherine Deneuve e Isabelle Adjani.

Para quem quiser mais informações, existem vários sites sobre o artista, entre os quais recomendo http://gainsbarre.typepad.com/. Alguns discos (importados) podem ser encontrados no Brasil, em lojas como a Fnac, Saraiva ou Livraria Cultura, assim como o CD Monsieur Gainsbourg (em edição nacional), com releituras de canções do artista por Franz Ferdinand, Feist, Kid Loco, Portishead, entre outros. Finalmente, recomendo a leitura do livro Um punhado de gitanes de Sylvie Simmons, publicado em português pela editora Barracuda.

As informações relativas à programação do Ano da França no Brasil estão disponíveis no site do Ministério da Cultura: http://anodafrancanobrasil.cultura.gov.br/