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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Play It Again, Sam – George Shearing: “On Target”

O pianista George Shearing está completando 90 anos esta semana, momento bastante oportuno para relembrar a carreira desse talentoso músico de jazz e destacar um dos trabalhos menos conhecidos entre os muitos que ele realizou ao longo de sua rica carreira.

Nascido em Londres em 13 de agosto de 1919, Shearing chega aos Estados Unidos em 1947. Seu nome começa a se tornar popular nos anos 1950 e início dos anos 1960, quando ele se apresenta com seu quinteto composto por piano, vibrafone, guitarra, baixo e bateria. Nessa fase, amplamente influenciada por músicos como Lionel Hampton e Nat King Cole, Shearing realiza alguns importantes discos seja instrumentais, seja em colaboração com cantoras como Peggy Lee, Nancy Wilson e Dakota Stanton, além do próprio Nat King Cole.

Se os anos 1970 não são tão produtivos, apesar do brilhante disco solo My Ship (1974), a carreira de Shearing conhece um novo impulso nos anos 1980, quando ele assina com a gravadora Concord e realiza uma série de discos primorosos, entre os quais Two for the Road (1980) com Carmen McRae, On a Clear Day (1980), Live at the Café Carlyle (1984) ou ainda Breaking Out (1987).

É nessa época que Shearing vai desenvolver uma parceria muito bem-sucedida com Mel Tormé, em discos como A Vintage Year (1987) ou Mel and George ‘Do’ World War II (1990).

Em 1992, Shearing assina com a gravadora Telarc e continua realizando vários discos muito interessantes, como How Beautiful is Night (1992), com arranjos orquestrais de Robert Farnon. Assim, aos 90 anos, Shearing já gravou mais de 100 discos, além de ter composto inúmeras músicas entre as quais a famosa “Lullaby of Birdland”, em uma das mais prolíficas carreiras entre os grandes nomes do jazz.

O disco On Target data de 1982 e é mais uma colaboração entre George Shearing e o compositor, maestro e arranjador canadense Robert Farnon (1917-2005). Shearing está acompanhado por Louis Stewart (guitarra) e Niels Henning Orsted-Pedersen (Baixo). Entre as faixas que compõem o repertório se encontram clássicos como “Last Night When We Were Young” (Arlen/Harburg), “A Nightingale Sang in Berkley Square” (Sherwin/Maschwitz) ou ainda “Portrait of Jennie” (Robinson/Burdge).

Embora gravado em momentos e lugares diferentes – o trio de Shearing gravou em Villgen (Alemanha) em setembro de 1979, enquanto a orquestra de Farnon gravou em Londres no ano seguinte –, o disco mostra uma verdadeira simbiose entre a delicadeza musical de Shearing, bastante influenciado por compositores como Debussy ou Satie, e a orquestração de Farnon, fazendo com que as notas do piano dialoguem magnificamente com as cordas, e tornando a audição desse disco um momento realmente prazeroso.

Infelizmente, produzido e lançado originalmente em LP pela gravadora alemã MPS, o disco está fora de catálogo há muito anos. Entretanto, pode ser encontrado na internet em alguns sites de compartilhamento de arquivos musicais.

Informações complementares sobre George Shearing se encontram no site www.georgeshearing.net

Quem quiser conhecer melhor Robert Farnon pode acessar: www.rfsoc.org.uk/

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Play it again, Sam – Tom Waits – Foreign Affairs

A carreira de Tom Waits deslanchou internacionalmente no começo dos anos 1980 com a trilha do filme de Francis Ford Coppola O fundo do coração (1982). Foi justamente nessa época que o artista mudou de gravadora, partiu para trabalhos bastante experimentais, como Swordfishtrombones (1983) ou Rain Dogs (1985), com arranjos em que o uso de percussões e sopros aliados à rouquidão tão específica da voz de Waits favorecia uma construção musical bastante brechtiana.

O disco Foreign Affairs é de 1977, portanto anterior a essas mudanças e talvez menos conhecido do grande público. Trata-se do 5º disco da carreira do compositor e talvez seja o trabalho em que Waits mais se aproxima do blues e do jazz.

Além do quinteto composto por Tom Waits: piano e vocais, Jim Hughart: baixo, Shelly Manne: bateria, Frank Vicari: saxofone tenor, Jack Sheldon: trompete, o disco também conta com a participação do clarinetista Gene Cipriano na faixa "Potter's field". Os incríveis arranjos de cordas de Bob Alcivar (que trabalhou com os Beach Boys, The Association, Sergio Mendes, Jack Jones, entre outros) criam uma atmosfera musical que faz com que esse disco lembre por vezes o clima típico dos filmes noir dos anos 1940 e 1950. A emocionante balada bluesy “Muriel” compete com a efusão verbal de “Potter’s field”, sem dúvida a faixa mais jazzística do disco, junto com o medley "Jack & Neal/California, here I come", cujo clima remete ao de filmes como Os assassinos (The Killers – Robert Siodmak, 1950), O segredo das joias (Asphalt Jungle – John Houston, 1950), ou ainda Ascensor para o cadafalso (Ascenseur pour l’échafaud – Louis Malle, 1957).

O disco traz também a deliciosa canção “I never talk to strangers”, com a brilhante participação de Bete Midler em um bem-humorado dueto com Waits.


Em 1978, Tom Waits produziu ainda Blue Valentine, que, de certa forma, é o irmão gêmeo de Foreign Affairs, apesar de ser mais elétrico e menos orquestral. Os dois discos representam bem o estilo do artista nessa primeira fase da carreira, que encontrará sua quinta-essência alguns anos depois, no disco One from the Heart.

Por fim, vale notar a ótima foto em preto-e-branco que ilustra a capa do disco, cujo autor é George Hurrel, fotógrafo bem conhecido pelos retratos que fez de artistas de Hollywood. A mulher que abraça Waits na foto é a cantora Ricky Lee Jones, namorada do artista na época.

Para mais informações sobre Tom Waits, recomendo o site
http://www.tomwaitslibrary.com

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Play it again, Sam - Marquis de Sade - Dantzig Twist

No meio dos anos 1970 o rock mudou de cara com a chegada do movimento Punk e, em seguida, de grupos que formaram o que se passou a designar como New Wave, em referência à Nouvelle Vague francesa dos anos 1960, por reinventarem o rock sessentista com acréscimos de influências mod, electro e funk. Entre eles, bandas com temáticas mais sombrias ou vinculadas à estética inspirada no Expressionismo alemão, como Siouxie and the Banshees, Joy Division ou Ultravox, mas também em correntes artísticas vinculadas à Pop Art e à cena nova-yorkina (principalmente as bandas descobertas no lendário clube underground CBGB).

Dessa profusão musical surgiram vários grupos e artistas na região de Rennes, na França, que acabaram por formar uma cena local com certa fama nacional que revelou pessoas que até hoje têm vez no panorama musical francês e europeu, como Etienne Daho.

Foi nesse contexto que apareceu o grupo Marquis de Sade, liderado por Philippe Pascal (voz) e Franck Darcel (guitarras), que, embora com carreira curta (1979-1981) e apenas dois álbuns lançados, tornou-se uma banda cult.

Com influências que mesclam judiciosamente artistas como Velvet Underground, David Bowie da fase berlinense, Talking Heads e até compositores clássicos como Erik Satie, Marquis de Sade lançou em 1979 seu primeiro disco, intitulado Dantzig Twist, pela EMI. O som intrigante do disco se destaca desde a primeira música, “Set in Motion Memories”. Linhas de baixo em evidência, acordes minimalistas de piano, solos raivosos e inebriantes de sax e tecelagem rítmica seca de guitarra de Franck Darcel constituem os ingredientes principais do clima de Dantzig Twist, aos quais se junta a voz de Phillipe Pascal, carregada de emoção (mas sem afetação).

As letras, em inglês, francês e alemão, destilam climas sombrios com temáticas vinculadas à angustia, às drogas, à submissão ou ainda à violência (assuntos bastante usuais na Europa inquieta do fim dos anos 1970), como em “Henry”, “Walls” ou “Skin Disease”. Cenários nevoentos em que se cruzam o fantasma de Conrad Veidt e espiões japoneses matizam canções como “Conrad Veidt”, “Japanese Spy”, “Nacht und Nebel”. Entretanto, o som de gravação ao vivo ou de garage band do disco desarma em parte esse lado mais opressivo e trás uma energia contagiante.

O fato é que essa estética musical tão peculiar, reforçada pelo desenho da capa do álbum, fez com que o grupo fosse indevidamente assimilado por alguns jornalistas ao fascismo, cuja ressurgência era notável nessa época social e economicamente conturbada. Porém, longe de qualquer fascistização, a banda retratava somente angústias comuns à juventude européia daquele momento e empregava uma estética então bastante corriqueira no visual das bandas punk e new wave.

No ano seguinte, Marquis de Sade lançou seu segundo e último disco, Rue de Siam, em que misturava elementos de new wave e funk com bastante complexidade musical. Menos impactante que o disco de estréia, porém com brilho inegável, o trabalho não agradou muito aos críticos e ao público, e a banda logo se separou. Philippe Pascal montou o grupo Marc Seberg, enquanto Darcel liderou a banda Octobre, que tiveram certa importância no cenário musical rock francês dos anos 1980.

Publicado originalmente em LP com 10 faixas, Dantzig Twist foi relançado em CD em 1989 com três faixas bônus. O disco hoje está fora de catálogo, mas as faixas estão disponíveis para download em sites de venda de música, além de o disco se encontrar em alguns sites de compartilhamento de arquivos e sites de sebos.

Para conhecer melhor o Marquis de Sade vá até: http://www.myspace.com/marquis2sade, que trás músicas e clipes ao vivo da banda.

terça-feira, 24 de março de 2009

Play it again, Sam - Lodger - David Bowie

Nos dias de hoje, em que o virtual se tornou algo concreto, esquecemos que as sensações, na sua essência, quase sempre precisam do suporte físico, do objeto, do palpável. Assim, podemos louvar os tocadores de mp3, mp4 ou outra nova tecnologia que aparecer, por permitirem ouvir música em qualquer lugar, a qualquer momento. Porém, duvido muito que possamos sentir mais prazer ao tentar decifrar na telinha do iPod o nome da banda e o título da música que pegamos ontem em um site de compartilhamento de arquivos do que ao escutar Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band ou ainda The Beggar's Banquet com a capa do disco na mão, acompanhando as letras das canções e olhando para a cara do Paul, do John ou do Mick.

Daí a idéia que tive de compartilhar neste espaço virtual as emoções (ainda palpáveis!) que senti ao descobrir certos discos na época em que ainda eram carinhosamente chamados de “bolachas”. Alguns podem ter caído no esquecimento, porque têm a cara de certa época, ou exatamente porque não tinham a cara daquele momento. Outros podem não ser os melhores, ou os mais conceituados de tal ou tal artista, mas trazem à minha mente lembranças prazerosas. São tesouros que merecem ser resgatados. É mel para os ouvidos, é licor para o coração. Por isso, espero que esta matéria provoque em vocês a vontade de descobri-los, mesmo que seja através de download, em mp3, para tocar no computador...


Lançado em maio de 1979, Lodger é até hoje considerado o 3º opus da trilogia berlinense de David Bowie, cujos outros títulos são Low (1977) e Heroes (1978). Trata-se de certa forma de um equívoco, já que esse disco foi gravado em Montreux (Suíça) e em Nova York – e não em Berlim –, e não reproduz o formato e o clima dos dois trabalhos precedentes, que se caracterizavam pela divisão entre faixas (e lados do vinil) cantadas e instrumentais, e a influência de artistas como Kraftwerk e Neu!

Entretanto, por ter sido Lodger igualmente produzido por Tony Visconti e Brian Eno, e conter construções musicais que remetem aos trabalhos anteriores, logo houve comparações e nem sempre a favor deste disco, que segundo certos críticos seria o mais fraco dos três. Discordo dessa opinião, já que a meu ver trata-se de uma obra bem diferente e única em vários aspectos.

Primeiro, há de se notar uma nova vertente de influências percussivas e étnicas, não muito comuns na obra de Bowie, como em “African Night Flight” (em que Brian Eno programa os teclados em sequências – loops – para simular ruídos noturnos da selva), ou ainda “Yassassin” (“longa vida” em turco).
Depois, o tema da viagem, do deslocamento, da falta de residência fixa é constante neste disco, por se encontrar não apenas no próprio título (“locatário”), mas também na capa – em que Bowie aparece em uma foto em formato de cartão-postal endereçado à própria gravadora, com o corpo contorcido e ferido, em um banheiro de hotel – e igualmente no tema e nos arranjos de títulos como “Fantastic Voyage” e “Move On”.


De fato, a utilização de loops nos teclados, como eu dizia mais acima, constitui uma base constante na construção das músicas de Lodger, em que a repetição sequencial acaba por criar uma base rítmica percussiva quase hipnótica, como, por exemplo, nas faixas “Repetition” ou “Red Money”. Nesta última, há de se notar a participação do guitarrista Reeves Gabrels, músico preponderante no desenvolvimento do trabalho de Bowie nos anos 1990. Por sua vez, Brian Eno seguiria essas experimentações logo depois em parcerias com David Byrne.

Outras faixas, finalmente, têm inspiração mais rock ou funky, como “Boys Keep Swinging”, “Red Sails” ou “D.J.”, com a presença marcante de Carlos Alomar ou Adrian Belew, e são premissas do Bowie dos anos 1980, em que ele se tornaria um astro mundialmente popular com músicas como “Ashes to Ashes”, “Fashion” ou ainda “Let’s Dance”.

Por esses motivos, penso que Lodger é sem dúvida um disco importante na obra de David Bowie, tanto por sua riqueza musical quanto pelo fato de se situar no cruzamento entre o experimentalismo dos anos 1970 e a consagração dos anos 1980, e por desenhar os primeiros contornos de Scary Monsters (1980), uma das obras pioneiras e fundamentais do rock dessa década.



Recomendo também o excelente livro de Loïc Picaud - David Bowie et le rock dandy - Hors Collection Editions: http://www.evene.fr/livres/livre/loic-picaud-david-bowie-et-le-rock-dandy-25541.php, ou ainda a biografia muito completa e documentada de Jérôme Soligny http://www.evene.fr/livres/livre/jerome-soligny-david-bowie-9337.php.

Finalmente, acabou de ser lançada uma versão remix da faixa "D.J." pelo DJ Benny Benassi e que pode ser ouvida no site de David Bowie: http://davidbowie.com/news/index.php?id=20090309/.