domingo, 29 de março de 2009

À flor da pele

Melody Gardot acaba de lançar seu 2º álbum, My One and Only Thrill, pelo selo Verve, e supera todas as expectativas que seu 1º trabalho, Worrisome Heart (2007), havia despertado.

Melody Gardot nasceu em New Jersey, em 1985. Em 2004, ainda estudante, foi vítima de um grave acidente de trânsito que a obrigou a ficar hospitalizada por alguns meses e lhe deixou sequelas permanentes. Durante sua hospitalização, e como terapia, ela desenvolveu um gosto natural pela composição musical, e ao receber alta, gravou seu 1º EP, Some Lessons. Em 2007 viria o aclamado disco de estréia, Worissome Heart, produção independente que, diante do sucesso, acabaria sendo relançada pela Verve.

My One and Only Thrill é joia rara. É um disco que, ao nascer, já se tornou clássico. Nesse trabalho, as influências de Gardot se encontram reunidas em uma junção impecável entre o cool jazz, o blues mais introspectivo e a chanson. O disco apresenta, entre outras, 10 composições originais da cantora, construídas na base de sensações, percepções, deixando as emoções à flor da pele, de forma a criar o thrill (arrepio) que dá nome ao disco. Esse frisson se deve também à combinação perfeita entre a base musical de piano, baixo, bateria e sax tenor e os estupendos arranjos de cordas de Vince Mendoza, que dão à obra um clímax quase cinematográfico, digno dos melhores trabalhos de Gordon Jenkins e Johnny Mandel.

Ao escutar My One and Only Thrill pela 1ª vez, reencontrei de imediato emoções que senti na descoberta de obras a meu ver tão essenciais quanto: Focus de Stan Getz ou Here’s To Life de Shirley Horn. Trata-se, de fato, de uma rara reunião de talentos que, ao se entregarem à mais delicada emoção, criaram um disco excepcional, daqueles que tomam imediatamente seu lugar no íntimo do ouvinte.
Quem quiser conhecer melhor a obra de Melody Gardot e ouvir faixas do novo disco pode acessar http://www.myspace.com/melody

quarta-feira, 25 de março de 2009

A divina comédia - Ignorantus, ignoranta, ignorantum!


(cena de O doente imaginário de Molière)

Ser ou não ser antenado? Eterno dilema. Estar por dentro do babado, do hype. Grande preocupação para quem busca espelhar-se em reflexos alheios, em uma vã procura pela própria identidade.

Frequentemente, deparo-me com matérias, comentários, resenhas, críticas de pessoas que se pretendem antenadas e que usam isso como se fosse sinônimo de certo estatuto. Como se o fato de ter ouvido falar, ter visto, ter lido fosse uma alavanca social, desvinculada de qualquer apreciação do valor do conteúdo. Como se o conhecimento se medisse por volume, tamanho, e não qualidade. Como se a informação fosse uma comida pronta vendida por quilo.

De fato, há de se reconhecer que os novos meios de comunicação e principalmente a internet, ao acelerar e ampliar a propagação das notícias, são ferramentas válidas e essenciais para que a informação atinja um número cada vez maior de pessoas.

Entretanto, estamos de novo falando de velocidade, tamanho, números, e não de qualidade. Os blogs (entre os quais este aqui) são outra fonte de comunicação, porém nem sempre bem utilizada seja por seus criadores ou seus seguidores.

É insuperável o fato de que, em uma época em que a pressa prima sobre a paciência e a falta de tempo vem constantemente abocanhar pedacinhos de nossa predisposição para o ócio, deparamo-nos com uma emergência informativa que nem sempre sabemos enfrentar, organizar ou assimilar.

Mas como essa emergência se tornou a pulsação que parece nos mover, nos levar adiante, acatamos a tudo e qualquer coisa para não parecermos incultos ou defasados. Há uma síndrome de pânico, um temor de parecer ou ser dedado como ignaro.

Ignorantus, ignoranta, ignorantum!, exclama Toinette em referência à hipocondria desatinada de Argan no Doente imaginário de Molière. Vemos, nessa ironia, que o pavor da ignorância não vem de hoje, sempre fez parte dos medos íntimos do homem, sempre foi motivo de desprezo, zombaria e rejeição social. Todavia, tornou-se certamente ainda mais relevante à medida que a cobrança do conhecimento veio se fortalecendo junto à aparição de novos meios de divulgação da informação, cada vez mais velozes, poderosos e eficientes.

E há realmente que louvar essas novas tecnologias e reconhecer que são até requintes cujos recursos mal sabemos utilizar. Há também que exaltar os tempos atuais no que oferecem em termos de informação, conhecimento, compartilhamento, formas diversificadas e ricas de expressão.

Mas ao mesmo tempo devemos nos redimensionar diante da imensidão informativa, nos situar, e reconhecer nosso próprio limite. Não de maneira submissa, mas de forma justa e desprendida. Ao dimensionarmos nossos limites, ao nos enxergarmos como seres que têm fim, podemos finalmente aprender a respeitar o incomensurável.

E ao respeitar o que é infinito, conseguiremos redirecionar nossa busca da informação, primando pela qualidade e pelo aprofundamento no que nos interessa ou nos dá prazer, em vez de engolir avidamente, de uma só bocada, iguarias ou dejetos, com um frenesi cego e insaciável, em nome de um suposto estatuto, de um reconhecimento social ou uma identificação tribal.

terça-feira, 24 de março de 2009

Play it again, Sam - Lodger - David Bowie

Nos dias de hoje, em que o virtual se tornou algo concreto, esquecemos que as sensações, na sua essência, quase sempre precisam do suporte físico, do objeto, do palpável. Assim, podemos louvar os tocadores de mp3, mp4 ou outra nova tecnologia que aparecer, por permitirem ouvir música em qualquer lugar, a qualquer momento. Porém, duvido muito que possamos sentir mais prazer ao tentar decifrar na telinha do iPod o nome da banda e o título da música que pegamos ontem em um site de compartilhamento de arquivos do que ao escutar Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band ou ainda The Beggar's Banquet com a capa do disco na mão, acompanhando as letras das canções e olhando para a cara do Paul, do John ou do Mick.

Daí a idéia que tive de compartilhar neste espaço virtual as emoções (ainda palpáveis!) que senti ao descobrir certos discos na época em que ainda eram carinhosamente chamados de “bolachas”. Alguns podem ter caído no esquecimento, porque têm a cara de certa época, ou exatamente porque não tinham a cara daquele momento. Outros podem não ser os melhores, ou os mais conceituados de tal ou tal artista, mas trazem à minha mente lembranças prazerosas. São tesouros que merecem ser resgatados. É mel para os ouvidos, é licor para o coração. Por isso, espero que esta matéria provoque em vocês a vontade de descobri-los, mesmo que seja através de download, em mp3, para tocar no computador...


Lançado em maio de 1979, Lodger é até hoje considerado o 3º opus da trilogia berlinense de David Bowie, cujos outros títulos são Low (1977) e Heroes (1978). Trata-se de certa forma de um equívoco, já que esse disco foi gravado em Montreux (Suíça) e em Nova York – e não em Berlim –, e não reproduz o formato e o clima dos dois trabalhos precedentes, que se caracterizavam pela divisão entre faixas (e lados do vinil) cantadas e instrumentais, e a influência de artistas como Kraftwerk e Neu!

Entretanto, por ter sido Lodger igualmente produzido por Tony Visconti e Brian Eno, e conter construções musicais que remetem aos trabalhos anteriores, logo houve comparações e nem sempre a favor deste disco, que segundo certos críticos seria o mais fraco dos três. Discordo dessa opinião, já que a meu ver trata-se de uma obra bem diferente e única em vários aspectos.

Primeiro, há de se notar uma nova vertente de influências percussivas e étnicas, não muito comuns na obra de Bowie, como em “African Night Flight” (em que Brian Eno programa os teclados em sequências – loops – para simular ruídos noturnos da selva), ou ainda “Yassassin” (“longa vida” em turco).
Depois, o tema da viagem, do deslocamento, da falta de residência fixa é constante neste disco, por se encontrar não apenas no próprio título (“locatário”), mas também na capa – em que Bowie aparece em uma foto em formato de cartão-postal endereçado à própria gravadora, com o corpo contorcido e ferido, em um banheiro de hotel – e igualmente no tema e nos arranjos de títulos como “Fantastic Voyage” e “Move On”.


De fato, a utilização de loops nos teclados, como eu dizia mais acima, constitui uma base constante na construção das músicas de Lodger, em que a repetição sequencial acaba por criar uma base rítmica percussiva quase hipnótica, como, por exemplo, nas faixas “Repetition” ou “Red Money”. Nesta última, há de se notar a participação do guitarrista Reeves Gabrels, músico preponderante no desenvolvimento do trabalho de Bowie nos anos 1990. Por sua vez, Brian Eno seguiria essas experimentações logo depois em parcerias com David Byrne.

Outras faixas, finalmente, têm inspiração mais rock ou funky, como “Boys Keep Swinging”, “Red Sails” ou “D.J.”, com a presença marcante de Carlos Alomar ou Adrian Belew, e são premissas do Bowie dos anos 1980, em que ele se tornaria um astro mundialmente popular com músicas como “Ashes to Ashes”, “Fashion” ou ainda “Let’s Dance”.

Por esses motivos, penso que Lodger é sem dúvida um disco importante na obra de David Bowie, tanto por sua riqueza musical quanto pelo fato de se situar no cruzamento entre o experimentalismo dos anos 1970 e a consagração dos anos 1980, e por desenhar os primeiros contornos de Scary Monsters (1980), uma das obras pioneiras e fundamentais do rock dessa década.



Recomendo também o excelente livro de Loïc Picaud - David Bowie et le rock dandy - Hors Collection Editions: http://www.evene.fr/livres/livre/loic-picaud-david-bowie-et-le-rock-dandy-25541.php, ou ainda a biografia muito completa e documentada de Jérôme Soligny http://www.evene.fr/livres/livre/jerome-soligny-david-bowie-9337.php.

Finalmente, acabou de ser lançada uma versão remix da faixa "D.J." pelo DJ Benny Benassi e que pode ser ouvida no site de David Bowie: http://davidbowie.com/news/index.php?id=20090309/.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Pernil à moda caseira


Pernil à moda caseira
(para 4 pessoas)

Observações

Não suporto mais ouvir críticas a respeito da carne suína. Que eu saiba, é muito mais saudável e suculenta que a da maioria dos frangos empilhados nas prateleiras dos supermercados, cuja cor amarelo-pálida, banhada na luz das embalagens de isopor, é um convite a nos tornarmos vegetarianos extremistas. E nem toda carne suína é gorda, basta escolher pedaços mais magros!

Sem querer desprezar os grandes restaurantes e chefs ilustres, cuja criatividade e sabedoria na arte culinária são insuperáveis, deve-se reconhecer que não há nada melhor que uma boa comida caseira, daquelas que trazem à mente lembranças da infância, que são perfeitas para juntar amigos à mesa, que se saboreiam com bons vinhos e muitos risos.

A seguinte receita, de criação própria, foi exatamente pensada com este intuito, de levar um sorriso ao rosto e alegria ao coração. Espero que gostem.

Para quem curte boas refeições regadas à amizade, nada mais divertido que a leitura do livro Comer é um sentimento, de François Simon, Editora Senac – São Paulo (2006).

(Ler a resenha de Cristiana Couto em http://basilico.uol.com.br/cultura/arte_lc_034.shtml)

E para beber, aconselho um vinho tinto leve, Pays de Loire ou Anjou, por exemplo, que são muito agradáveis ao paladar e têm certa acidez que combina harmoniosamente com prato.

Ingredientes

- 1 fatia de pernil suíno (de 1 kg a 1,2 kg)
- 4 batatas
- 1 alho-poró
- 1 cebola
- 7 dentes de alho
- 200 g de queijo gruyère ralado
- 100 g de nozes picadas
- 1 ½ xícara (chá) de vinho branco seco
- 2 colheres (sopa) de vinagre de vinho tinto
- pimenta-do-reino moída
- pimenta-branca em grãos
- páprica picante
- alecrim
- louro
- azeite de oliva
- sal
- água

Preparo

Na véspera, prepare uma marinada com o vinho branco seco, o vinagre, 2 dentes de alho picados, 1 folha de louro, 1 colher (sobremesa) de sal, a pimenta-do-reino moída e a páprica, e deixe nela a fatia de pernil por 12 horas, virando algumas vezes a carne para que se impregne de todos os ingredientes.

No dia seguinte, unte com azeite uma forma refratária com tampa ou coberta com papel alumínio e coloque nela a fatia de pernil e a marinada.

Acrescente 5 dentes de alho inteiros com casca* e a pimenta-branca em grão.

Deixe a carne cozinhar com tampa em fogo baixo (160º) por 1 hora, regando-a com a marinada a cada 10 min. Se faltar caldo, acrescente um pouco de água.

Enquanto isso, descasque e corte as batatas em cubos grossos.

Cozinhe os cubos de batata no vapor, o tempo suficiente para deixá-los cozidos mas firmes (al dente). Reserve.

Lave bem e separe a parte verde (folhas) e branca (talo) do alho-poró. Corte as folhas em julienne. Corte o talo em 4 pedaços de igual tamanho.

Passe os pedaços de talo do alho-poró no sal e na pimenta-do-reino e cozinhe-os no vapor até que fiquem tenros.

Retire a forma do forno, e espalhe a julienne de folhas de alho-poró de maneira que forme um leito em volta da carne.

Retome o cozimento da carne por mais 20 min sem tampa e na temperatura de 220º, para que a carne comece a dourar. Regue-a várias vezes para não ressecar.

Enquanto isso, passe delicadamente os cubos de batata em uma mistura de sal, pimenta-do-reino e alecrim.

Disponha os cubos de batata e os talos de alho-poró em volta da carne de maneira harmoniosa. Regue a carne e os legumes com um pouco de azeite de oliva. Retome o cozimento por mais 10 min.

Salpique por cima dos legumes o gruyère ralado e as nozes picadinhas.

Coloque de volta no forno, em temperatura alta, até gratinar.

Sirva com arroz branco.

* Ao cozinhar dentro da casca, o alho se torna cremoso e levemente adocicado. É uma verdadeira iguaria!

sábado, 21 de março de 2009

Coup de coeur ao Auditório Ibirapuera

Além de se situar no coração do mais belo parque de São Paulo, o Auditório Ibirapuera é um lugar privilegiado para quem curte boa música e quer desfrutar de excelentes condições de acústica e de conforto.

Após ter sido alvo de inúmeras polêmicas e embargos judiciais que atrasaram sua construção por vários anos, o Auditório Ibirapuera foi finalmente inaugurado em 2005. Desenhado por Oscar Niemeyer, ele deveria ter integrado um projeto arquitetônico mais amplo, junto com a Oca e o edifício da Bienal, por meio de uma ampla praça pública e de uma marquise, que, até hoje, não foi totalmente completado.

O auditório tem uma característica única: um sistema de abertura atrás do palco que permite a um público externo assistir, a partir do gramado do parque, assista a apresentações ao ar livre.



A programação do auditório é variada, com apresentações de música clássica, brasileira ou jazz. O local recebe também artistas dentro da agenda de alguns festivais anuais.

O Instituto do auditório, por sua vez, além de administrar o auditório em si, tem um programa de incentivo à descoberta de novos talentos e abriga a Escola do Auditório que proporciona cursos de música e canto, como "Palhetas (saxofones e clarinetas, flautas, fagotes e oboés)", "Metais (trompas, trompetes e flugels, trombones, bombardinos e tubas)", "Técnica vocal", "Prática de Orquestra Brasileira", entre outros.

Todas as informações relativas à programação de concertos e à Escola se encontram no site
http://www.auditorioibirapuera.com.br/, em que os visitantes podem se cadastrar para receber e-mails sobre os eventos.

Quem quiser ter mais detalhes sobre o projeto arquitetônico pode acessar
http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/oscar-niemeyer-auditorio-sao-22-02-2009.html

Enfim, uma curiosidade: o site do auditório disponibiliza um sistema on-line de monitoramento em tempo real da entrada e da platéia
http://www.auditorioibirapuera.com.br/tempo_real.aspx

Sous le soleil exactement


O 31º Festival de films de femmes, que se encerra neste final de semana em Créteil, perto de Paris, homenageou a atriz Anna Karina com a retrospectiva de alguns de seus filmes mais marcantes, entre os quais uns dos mais importantes do diretor Jean-Luc Godard, com quem ficou casada por seis anos, como O Pequeno Soldado (1960), Viver a vida (1962), Banda à parte (1964), e O Demônio das 11 horas (1965).

Nascida em Copenhagen, na Dinamarca, Hanne Karin Blarke Bayer ficou conhecida como Anna Karina (nome que lhe foi dado por ninguém menos que Coco Chanel) e tornou-se a musa da Nouvelle Vague, embora nunca tenha trabalhado com alguns dos mais famosos representantes desta corrente cinematográfica, como Truffaut, Demy ou ainda Chabrol. Chegou à França no fim dos anos 1950, na esperança de fazer carreira como modelo, e logo foi chamada para atuar em vários filmes, ainda que fosse menor de idade e não falasse quase nada de francês!

Embora seus trabalhos mais marcantes no cinema se situem principalmente nos anos 1960, Anna Karina nunca parou de atuar. Entre seus filmes mais conhecidos estão Cléo das 5 às 7 de Agnès Varda (1962), Alphaville de Godard (1965) e A religiosa de Jacques Rivette (1966), proibido na França na época por decisão de André Malraux, então ministro da Cultura, e Vivre ensemble (1972), que ela mesma dirigiu. Vale a pena também conhecer seu trabalho como cantora, principalmente pelas canções do filme musical Anna de Pierre Koralnik (1967), compostas por Serge Gainsbourg, e em que dividiu a tela com Jean-Claude Brialy, e pelo CD Une histoire d'amour (2000), produzido pelo compositor e cantor Philippe Katerine.

Para maiores detalhes, basta seguir o link do Festival http://www.filmsdefemmes.com/Anna-Karina.html
Quem quiser saber mais sobre esta atriz http://www.geocities.com/annakarinawebpage/
e os filmes disponíveis no Brasil podem ser encontrados na http://www.2001video.com.br/



quinta-feira, 19 de março de 2009

Cantores de estimação



Os Pet Shop Boys estão de volta com o novo CD simplesmente denominado Yes. Quem gosta desta banda não se decepcionará com a nova safra que, em vários aspectos, remete ao melhor da produção da dupla inglesa, com discos como Very, Actually ou Introspective. Entre as melhores faixas, a super dançante "More than a Dream", "Vulnerable", "Pandemonium", e "Beautiful People", além do excelente single "Love, etc". O CD deve ser lançando aqui em edição nacional, mas, como quase sempre no mercado musical brasileiro, não há previsão de comercialização da versão limitada que vem com 7 faixas adicionais. Também disponível para download a polêmica faixa "We're all Criminals Now", cuja letra, diretamente inspirada na morte de Jean Charles de Menezes pela polícia de Londres, denuncia a vigilância à qual estamos submetidos a todo instante e o fato de podermos ser considerados como culpados ou criminosos por simples livre arbítrio de quem representa a lei e a ordem.

E para quem curte mesmo a banda, vale a pena procurar o CD Story com vários remixes de faixas da carreira e que foi distribuído exclusivamente na Inglaterra este mês como brinde de um jornal dominical.

O novo CD, assim como o clipe do single estão disponíveis para escuta no site oficial da banda
http://www.petshopboys.co.uk/

Existem também sites não oficiais como
http://www.petshopboys-online.com/ ou ainda http://www.petshopboys.net/


quarta-feira, 18 de março de 2009

Angels (are we?)


Free wings sprout out from our shoulders
Just as bubbles sparkled
In our ears, our hair, our eyes
Dazzled by the overcoming spring
We raised our heads in deep peace
Looking to the pink shiny circle
We started our journey up slowly
With confidence and faithfulness
Until we reached the black sky
The smoke of burned flesh
The smell of soiled ground
The rotten jealousies
Then was the fall
We went straight to the down low
Sunk by the weight of our private jokes
Just as birds smashed up by fake liberty
Twisting down back into the drain
Of our veins, bloody Acheron
Ripping out the Holly grass
How much shall we know?
How much do we owe?
How far shall we go?
How long shall we bleed?
To get back the free wings
Shall we start all over again?
Is the rebirth another death?

terça-feira, 17 de março de 2009

Tajine à brasileira

Tajine à brasileira
(para 6 pessoas)

Observações

Esta receita da África do Norte costuma ser preparada em uma panela de barro própria para tajine, composta de uma tigela grande e de uma tampa em forma de cone alto (ou chaminé). Nela, os ingredientes cozinham devagar, e a forma da tampa mantém o calor, além de deixar a comida suculenta.

Essas panelas podem ser encontradas hoje no Brasil, em lojas de louças importadas (costumam ser caras). Algumas não podem ir direto à chama de gás. Nesse caso, a panela deverá ser colocada sobre uma placa própria, ou então no forno. Na sua falta, a receita pode ser preparada numa panela comum, de preferência de barro, com tampa.

Ao colocar os ingredientes na panela, disponha-os cuidadosamente, sobrepondo-os, se necessário. Evite mexê-los muito. O ideal é ir acomodando todos com uma colher em cada mão, delicada e harmoniosamente, para que tenham uma boa apresentação à mesa.

A quantidade de água durante o cozimento é muito importante. Trata-se, de fato, de deixar os ingredientes macios e com certo caldo, mas não de preparar um ensopado!

A comida da África do Norte costuma ser bastante apimentada, e eles utilizam um pó (ou pasta) chamado harissa (originário da Tunísia), composto de pimenta-malagueta com alho e coentro ou cominho. Na falta dele, uma pimenta-malagueta serve perfeitamente. Entretanto, a pimenta é opcional.

Finalmente, resolvi dar um toque brasileiro, acrescentando legumes típicos daqui, como a batata-doce e o maxixe, que dão um sabor diferente e original ao prato. O limão conservado na salmoura dá um gosto especial ao prato, diferente do limão fresco.

O tajine costuma ser servido sozinho, mas pode ser acompanhado de sêmola cozida (ver receitas de cuscuz árabe) ou até de arroz. E para beber, aconselho um vinho rosé seco bem gelado, de preferência um Boulaouane Gris, do Marrocos, se encontrar aqui!

Ingredientes
- 1 pernil de cordeiro cortado em pedaços
- 6 coxinhas de asa de frango
- 3 tomates sem pele nem sementes
- 2 batatas-doces
- 600 g de maxixe
- 200 g de grão-de-bico
- ½ pimentão amarelo
- ½ pimentão vermelho
- 100 g de uva passa preta
- 1 limão-siciliano em salmoura
- 3 dentes de alho
- 2 cebolas
- harissa em pó ou pasta (ou 1 pimenta-malagueta macerada)
- páprica
- cominho
- canela em pó
- mostarda em grãos
- coentro em grãos
- ½ maço de coentro fresco
- hortelã desidratada
- salsa desidratada
- cebola desidratada
- alho em pó
- óleo
- azeite de oliva
- sal e pimenta-do-reino
- água

Preparo
Deixe o grão-de-bico de molho na véspera; retire a casca no dia seguinte e reserve.

Numa tigela misture, em proporções iguais, a cebola desidratada, o cominho e o alho em pó, a páprica e a canela, o coentro e a mostarda em grãos, a hortelã e a salsa desidratadas, de forma a obter aproximadamente uma colher de sopa de temperos.

Ferva os tomates em água para retirar a pele.
Numa frigideira, doure no óleo os pedaços de cordeiro e de frango e reserve.

Descasque e pique as cebolas e o alho.
Pique a pimenta-malagueta.
Corte grosseiramente os tomates em pedaços e retire as sementes.
Descasque e corte as batatas-doces em cubos.
Corte os maxixes em dois.
Corte os pimentões em rodelas finas.
Corte o limão-siciliano em 8 pedaços com a casca (4 gomos cortados em dois).

Na panela para tajine, refogue com o azeite, em fogo brando, a cebola e o alho picadinho (e a pimenta-malagueta).
Acrescente os tomates, os cubos de batata-doce e os pedaços de cordeiro e de frango.
Coloque sal e pimenta-do-reino a gosto.
Acrescente a mistura de temperos (e ½ colher de chá de harissa).
Junte o grão-de-bico, os maxixes e o limão-siciliano.
Acrescente a água e mexa devagar com uma colher, de forma que todos os ingredientes e temperos fiquem molhados.

Tampe e deixar cozinhar em fogo brando por uma hora, verificando de vez em quando o cozimento para que não resseque nem grude no fundo. Acrescente água aos poucos, se necessário.
Junte as uvas passas, cubra com as fatias de pimentão e deixe cozinhar por mais 30 min.

Na hora de servir, acrescente as folhas frescas de coentro.

Salut l'artiste!


Alain Bashung 1947 - 2009

Durante três décadas, este cantor rebelde e irreverente marcou a música francesa com sua inigualável presença. Troubadour, chansonnier, na linha direta de Serge Gainsbourg e de Léo Ferré, Bashung conseguiu uma rara simbiose entre Rimbaud e Bob Dylan, poesia e rock, ousadia e ternura.

O poeta se foi, mas restam os discos, preciosos, irradiantes, como o último opus, Bleu pétrole, que acabou de ser consagrado nas Victoires de la Musique, maior premiação musical da França, em que recebeu três prêmios, entre os quais melhor cantor e melhor disco.

Para quem quiser visitar ou descobrir o universo deste grande artista, nada melhor que o seu site oficial
http://alainbashung.artistes.universalmusic.fr/ e o seguinte site de fan http://bashung.ifrance.com/

quarta-feira, 11 de março de 2009

A divina comédia - Yes, we have no bananas!


O Brasil é um dos países mais rigorosos no que diz respeito às leis trabalhistas. Mas este rigor, mesmo que pareça ser a última muralha erguida na defesa dos direitos dos trabalhadores, na verdade também é fruto de um atraso legislativo que faz com que as regras e normas não estejam em sintonia com a realidade do mercado atual.

Uma das maiores críticas às regras impostas pela C.L.T. diz respeito à execução e computação das horas extras. Obviamente, não pretendo criticar o fato do legislador querer normalizar as condições de execução do trabalho além das horas normais de expediente, mas há de convir que as limitações impostas pela Consolidação das Leis do Trabalho são frequentemente obsoletas diante da realidade mercantil.

Outrossim, vem à tona a questão da autonomia da vontade das partes (empregador, empregado), o caráter sinalagmático do contrato, o equilíbrio entre as partes, etc.; Esses assuntos poderiam ser (e são) tema de inúmeras matérias.

Pois bem, o Senado brasileiro acabou de resolver esta espinhosa questão ao pagar cerca de R$ 6,2 milhões em horas extras para aproximadamente 3.800 funcionários em janeiro deste ano, embora neste mesmo mês a casa estivesse em recesso e não houve sessões, nem atividade parlamentar.

E ninguém nas instâncias mais importantes desta digna Casa parece saber exatamente o que aconteceu, como explicar este fato e o que fazer.

Ou seja, a C.L.T, suas qualidades e seus defeitos acabaram de ser varridos para baixo do tapete, mandados para o ralo pela mais importante instituição constitucional brasileira, sem mais nem menos.

Diante desta situação, vejo apenas 3 alternativas:

1) Trata-se de um cala-boca para todos os catedráticos perdidos em debates doutrinais sobre a evolução do direito, para todos os juízes trabalhistas que cotidianamente têm de conduzir a orquestração dissonante de suas varas sobrecarregadas.

2) Trata-se (também e sobretudo) de uma provocação a todos os funcionários que estão sentindo na pele os efeitos da crise, e aos 4.200 demitidos da Embraer que brigam na justiça para tentar reaver seu emprego.

3) Ou se trata simplesmente de mais um rebolado tropicalista dos eleitos do povo, mais um evento dentro das comemoração do centenário do nascimento de Carmen Miranda. Algo repentinamente comentado e logo esquecido num país em que a memória se apaga à medida que se forma.

I love Paris




Every time I look down on this timeless town whether blue or gray be her skies.

Whether loud be her cheers or soft be her tears, more and more do I realize:
I love Paris in the springtime.

I love Paris in the fall.

I love Paris in the winter when it drizzles,

I love Paris in the summer when it sizzles....


Coup de coeur à Sue Raney

Descobri esta fantástica cantora por meio de uma coletânea publicada na década de 1980 na coleção de CDs Gitane Jazz.

Dona de um timbre perfeito e de uma grande musicalidade, Sue Raney tem um talento excepcional, embora ela não seja tão conhecida do grande público quanto outras cantoras de sua geração. Talvez por ter dedicado mais tempo à carreira de professora de canto do que à de cantora, seja em disco ou ao vivo, ela restringiu muito a divulgação de seu trabalho. Nascida em 1940, in McPherson, Kansas, começou sua carreira no rádio antes de gravar seus primeiros discos pelo selo Capitol no fim dos anos 1950. Sua discografia contém pérolas como When your lover has gone (1959), Songs for a Raney day (1960), All by myself (1964), Ridin' high (1980) ou ainda o maravilhoso Autumn in the air (1998). Recentemente, ela gravou uma homenagem à Doris Day, Heart's desire (2007).

Para quem quiser mais informações sobre Sue Raney, nada melhor que o site oficial da cantora: http://sueraney.com/

O filho da mãe


Bernardo Carvalho acaba de publicar seu novo romance intitulado O filho da mãe (Editora Companhia das Letras) e que é também o segundo volume da coleção "Amores Expressos". Descobri Carvalho com o penúltimo romance, O sol se põe em São Paulo, do qual gostei muito. Para quem presa de boa leitura, de histórias comoventes e muito bem escritas, recomendo a descoberta deste autor.

Bernardo Carvalho nasceu em 1960, no Rio de Janeiro e é escritor, jornalista e tradutor (fez, alías, uma ótima tradução do romance Na praia de Ian McEwan).

Para quem estiver interessado, recomendo assistir a entrevista do autor no seguinte site: http://bibliotecariodebabel.com/literatura-brasileira/filho-da-mae-de-bernardo-carvalho-booktrailer/