Dando complemento ao texto Além da imaginação que postei neste blog no último dia 28 de abril, http://metreno.blogspot.com/2009/04/alem-da-imaginacao.html, meu amigo Milton Dutra Pereira me informou da participação de Michel Melot, curador-geral das Bibliotecas junto ao Ministério da Cultura da França, no Segundo Seminário Brasileiro do Livro e da História Editorial, que aconteceu no Rio de Janeiro nesta semana. http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/segundoseminario/index.php/pagina-inicial
Melot, autor de livros sobre a história da ilustração, as estampas e as bibliotecas, constata que, apesar da morte cada vez mais anunciada do livro físico, que seria substituído pelo e-book, nunca houve tantos projetos arquitetônicos relativos a bibliotecas públicas. Além das medidas e dos incentivos políticos e governamentais, Melot percebe que há uma verdadeira renovação do conceito de biblioteca, com a modernização dos equipamentos e a reformulação dos meios de pesquisa, que transformam estes lugares em mediatecas, ou seja, centros culturais, altamente frequentados por quem busca informação e cultura, além do simples empréstimo de livros.
Ele cita como exemplo deste paradoxo as doações feitas por Bill Gates, por meio da Fundação Bill & Melinda Gates, que, após ter doado US$ 20 milhões à biblioteca pública de Seattle em 1998, anunciou em 2008 um programa de implantação de melhoramento do sistema de internet nas bibliotecas de outros estados, para permitir um maior acesso do público aos acervos.
Dessa forma, o e-book não anunciaria o fim do livro de papel, mas seria apenas um dos componentes da grande mudança que nos espera em relação à nossa maneira de receber, assimilar e produzir a informação escrita. Nessa mudança, as mediatecas são de fato grandes centros de comunicação da cultura como um todo, ao facilitar sua visibilidade e seu compartilhamento.
Gostaria ainda de destacar a matéria da coluna Conecte do Jornal da Globo de 14 de maio, que, ao tratar deste assunto, privilegia as novas tecnologias em termo de e-book.
http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1126913-16021,00-NA+ERA+DA+TECNOLOGIA+OS+LIVROS+SAO+ELETRONICOS.html
Em todo caso, vejo que estamos diante de um processo irreversível e que nosso desafio não é nada mais (porém, nada menos também) que testar nossa capacidade de adaptação às formas novas de comunicação e, portanto, de compreensão da informação sem que haja a necessidade moldá-la em determinado formato ou suporte.
Assim, achei interessante a declaração de Nando Reis, na edição nº 32 da revista Rolling Stone, que, ao deplorar a diminuição das vendas de discos, disse: “Talvez não tenha tanta gente interessada em discos inteiros. Isto, sim, acho um empobrecimento. A construção de meu esqueleto, meu gosto, minha vida, foi através de álbuns”.
Aí, percebemos claramente o quanto nossa construção cultural (e emocional) depende muito do formato sob o qual recebemos a informação. É incontestável que Nando Reis viveu a grande época dos discos de vinil e principalmente dos álbuns conceituais. Entretanto, não podemos esquecer que o formato de disco “long play” é uma criação puramente mercadológica, resultado do desenvolvimento tecnológico decorrente da invenção de Thomas Edison.
Antigamente, as “canções” eram conhecidas do grande público graças a cantores de rua, a tocadores de realejo, que frequentemente vendiam também a partitura ou a letra. Obras conceituais cantadas ou de longa duração eram óperas e peças de música erudita em geral.
Por outro lado, sem a criação do LP, o que teria sido de obras tão marcantes quanto Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, Dark Side of the Moon do Pink Floyd ou ainda Thriller de Michael Jackson? E como poderíamos celebrar este ano os 50 anos de Kind of Blue de Miles Davis? São perguntas essenciais porque dizem respeito à nossa construção cultural, nossa percepção emocional, nosso universo sensorial.
E já que os tempos estão mudando, nada melhor para concluir este artigo do que anunciar o lançamento do novo disco de Bob Dylan, Together Through Life. Achei o disco bem interessante, apesar da voz cada vez mais desgastada do artista. Quem estiver interessado poderá adquirir o disco em vários formatos, CD, CD DeLuxe, LP, LP duplo com CD, CD com DVD, etc. Prova de que estamos ainda longe de nos entregar inteiramente à imaterialidade das coisas!
Melot, autor de livros sobre a história da ilustração, as estampas e as bibliotecas, constata que, apesar da morte cada vez mais anunciada do livro físico, que seria substituído pelo e-book, nunca houve tantos projetos arquitetônicos relativos a bibliotecas públicas. Além das medidas e dos incentivos políticos e governamentais, Melot percebe que há uma verdadeira renovação do conceito de biblioteca, com a modernização dos equipamentos e a reformulação dos meios de pesquisa, que transformam estes lugares em mediatecas, ou seja, centros culturais, altamente frequentados por quem busca informação e cultura, além do simples empréstimo de livros.
Ele cita como exemplo deste paradoxo as doações feitas por Bill Gates, por meio da Fundação Bill & Melinda Gates, que, após ter doado US$ 20 milhões à biblioteca pública de Seattle em 1998, anunciou em 2008 um programa de implantação de melhoramento do sistema de internet nas bibliotecas de outros estados, para permitir um maior acesso do público aos acervos.
Dessa forma, o e-book não anunciaria o fim do livro de papel, mas seria apenas um dos componentes da grande mudança que nos espera em relação à nossa maneira de receber, assimilar e produzir a informação escrita. Nessa mudança, as mediatecas são de fato grandes centros de comunicação da cultura como um todo, ao facilitar sua visibilidade e seu compartilhamento.
Gostaria ainda de destacar a matéria da coluna Conecte do Jornal da Globo de 14 de maio, que, ao tratar deste assunto, privilegia as novas tecnologias em termo de e-book.
http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1126913-16021,00-NA+ERA+DA+TECNOLOGIA+OS+LIVROS+SAO+ELETRONICOS.html
Em todo caso, vejo que estamos diante de um processo irreversível e que nosso desafio não é nada mais (porém, nada menos também) que testar nossa capacidade de adaptação às formas novas de comunicação e, portanto, de compreensão da informação sem que haja a necessidade moldá-la em determinado formato ou suporte.
Assim, achei interessante a declaração de Nando Reis, na edição nº 32 da revista Rolling Stone, que, ao deplorar a diminuição das vendas de discos, disse: “Talvez não tenha tanta gente interessada em discos inteiros. Isto, sim, acho um empobrecimento. A construção de meu esqueleto, meu gosto, minha vida, foi através de álbuns”.
Aí, percebemos claramente o quanto nossa construção cultural (e emocional) depende muito do formato sob o qual recebemos a informação. É incontestável que Nando Reis viveu a grande época dos discos de vinil e principalmente dos álbuns conceituais. Entretanto, não podemos esquecer que o formato de disco “long play” é uma criação puramente mercadológica, resultado do desenvolvimento tecnológico decorrente da invenção de Thomas Edison.
Antigamente, as “canções” eram conhecidas do grande público graças a cantores de rua, a tocadores de realejo, que frequentemente vendiam também a partitura ou a letra. Obras conceituais cantadas ou de longa duração eram óperas e peças de música erudita em geral.
Por outro lado, sem a criação do LP, o que teria sido de obras tão marcantes quanto Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, Dark Side of the Moon do Pink Floyd ou ainda Thriller de Michael Jackson? E como poderíamos celebrar este ano os 50 anos de Kind of Blue de Miles Davis? São perguntas essenciais porque dizem respeito à nossa construção cultural, nossa percepção emocional, nosso universo sensorial.
E já que os tempos estão mudando, nada melhor para concluir este artigo do que anunciar o lançamento do novo disco de Bob Dylan, Together Through Life. Achei o disco bem interessante, apesar da voz cada vez mais desgastada do artista. Quem estiver interessado poderá adquirir o disco em vários formatos, CD, CD DeLuxe, LP, LP duplo com CD, CD com DVD, etc. Prova de que estamos ainda longe de nos entregar inteiramente à imaterialidade das coisas!
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