A dívida do pop atual para com o velho disco sound é tão enorme que nem o FMI seria capaz de contabilizar tantas cifras e cobrar tantos juros. A disco music pode ter sido o trunfo de selos e produtores espertos, mas vale a pena lembrar que ela apareceu numa época de crise econômica, em que já havíamos rompido com os antigos valores surgidos no pós-Guerra e já estávamos cansados do poder das flores, dos cabelos compridos, ponchos e lhamas, do cheiro de queijo de cabra caseiro e até de tropeçar de tamancos na lama de Woodstock. Na época do primeiro choque petroleiro, todo mundo precisava ser plastificado, com glamour e paetê. Precisávamos brilhar mesmo que na escuridão. Aí surgiu uma cultura oriunda do R&B americano e repensada por alguns mágicos do som que entenderam que, com essa mana, iam fisgar os “manos” da época. Mas, tudo foi feito na marra, sem truques de computador. A época era anterior ao photoshop e vocoder e a moda evoluiu de acordo com o gosto do público. Enquanto Earth, Wind & Fire ou Michael Jackson injetavam no seu som toques africanos, a velha Europa misturava reggae, ska, drumbeat com Kraftwerk para produzir ousadias que, vinte anos depois, deram à luz Guettas ou Sinclars, ou outros Calvin Harris.
Donna Summer, Diana Ross, Village People, KC and the Sunshine Band, Cerrone, Bee Gees, Patrick Juvet, Ami Stewart, Sylvester, Amanda Lear, Boney M ou ainda Chic e Sister Sledge, não somente marcaram sua época, como abriram o caminho para uma sociedade mais pluricultural e plurissexual, que seguia os passos de Tony Manero nas pistas em que tantas pessoas no começo da noite gritavam "I Feel Love” para sairem na rua no amanhecer soluçando “I will survive". E muitos países tiveram seus “Dancing Days”, cada um com seus santos “lulus” e suas frenéticas. Com a chegada dos anos 1980, a onda “disco” murchou, tornando-se cada vez mais uma lembrança, placebo das festas “revival” que até hoje animam as pistas do mundo todo. Entretanto, as estrelas do pop começaram a se sentir “como virgens” até serem bonecas plastificadas, rainhas do playback ou juradas de programa de calouros à procura do próximo ídolo instantâneo. Mesmo assim, a música disco ainda traz as mais gostosas lembranças de uma época em que curtir bolachas (especialmente as versões especiais 12” que, naquele tempo, não precisavam ser orgânicas, nem diet) não era um pecado e em que a cafonice ainda não havia sido recuperada por Mamma Mia ou Priscila, Rainha do Deserto. Mas, nos nossos tempos regulados pelo download e o descartável, sobrou pouco espaço para a verdadeira homenagem à época que, de certa forma, ainda era a da inocência. E o mais interessante é que essa homenagem vem de um talentoso artista paulistano chamado Péricles Martins, que assinou um dos discos mais instigantes e dançantes de 2011, Pure Gold, sob o nome Boss in Drama. Uma ode à época disco, um prazer para os ouvidos e os quadris. O som de Boss in Drama é imperdível e insuperável. So, please don’t stop the music.
http://www.facebook.com/bossindrama?sk=info#!/bossindrama
Nenhum comentário:
Postar um comentário