quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Star is back

É sempre bom rever amigos, principalmente aqueles que já nos trouxeram muitas emoções, nos quais pensamos com muito carinho, com ternura, mas que acabamos perdendo de vista por causa dos acontecimentos da vida, porque mudamos de rumo, ou porque eles seguiram outro caminho. Ou, simplesmente, porque não era o momento, não havia mais sintonia. Wrong people at the wrong place.

Tive isso com a Barbra Streisand, que amei quando a descobri, no começo dos anos 1980; que me impressionou quando acompanhei seu percurso artístico, ou sua volta aos palcos; com a qual me diverti com Funny Girl (1968) ou On a Clear Day You Can See Forever (Num dia claro de verão, 1970), e que me emocionou com Yentl (1983).

Acontece que nos dez últimos anos não senti a mesma sintonia. Achei os discos fracos (como Holly Ground e seu assustador dueto com Celine Dion!), e Barbra teve poucos destaques, a não ser a hilária participação no filme Meet the Fockers (Entrando numa fria maior ainda, 2004), em que fazia um ótimo par com Dustin Hoffman.

E, de repente, Barbra volta a me surpreender e me emocionar com seu novo trabalho, intitulado Love is the Answer. A proposta é tão simples que se torna inovadora. Gravar standards com Diana Krall e seu quarteto, e arranjos orquestrais de Johnny Mandel.

Parece óbvio, mas não é! Porque, ao ir procurar a nova musa do jazz americano, talvez a que hoje mais saiba unir mainstream com classe, Barbra de repente está resgatando o que perdera há algum tempo: uma suavidade sem afetação, o bom gosto que lhe é inato... Aquilo que foi a sua marca durante os anos 1960 e 1970, mas que nem sempre apareceu nos trabalhos das duas últimas décadas...

Love is the Answer é joia rara. É um disco sobre o amor e a delicadeza, com refinamento e sutileza. O quarteto de Diana Krall tece o mais perfeito leito para um finíssimo repertório, em que se encontram pérolas como "Here's to Life", "In the Wee Small Hours of the Morning", ou ainda "You Must Believe in Spring". A música brasileira está presente com a linda gravação de "Love Dance" de Ivan Lins ou com citações da Bossa Nova e Jobim, como em "Gentle Rain", que remetem ao disco Quiet Nights que Diana Krall lançou recentemente. O único deslize, a meu ver, é a descartável gravação de "Smoke Gets in your Eyes", cujo arranjo tem algo grandiloquente que destoa do resto do trabalho.

O disco foi lançado em duas edições: a "normal", com 13 faixas, e a "Deluxe", com um segundo CD que oferece nove gravações apenas com o quarteto de Diana Krall, entre as quais uma lindíssima interpretação de "Where do you Start".

Além desse lindo trabalho, Barbra Streisand decidiu se apresentar com um quarteto no mítico Village Vanguard de Nova York, em que não cantava desde 1962. O show aconteceu no último dia 26 de setembro, para um público de 100 pessoas, entre fãs sorteados por meio do site da artista e alguns VIPs, como o casal Clinton, Sarah Jessica Parker e Nicole Kidman.

Todas as informações relativas ao novo CD se encontram no site de Barbra: www.barbrastreisand.com

O mesmo site tem um link para o show do Village Vanguard, com vários vídeos:
http://www.barbrastreisand.com/us/village-vanguard-2009

Um comentário:

  1. Sua matéria sobre La Streisand me acendeu a vontade de voltar a ouví-la o que não faço há muito tempo. Outro dia te disse en passant que nunca tinha sido muito fã dela. Isto é apenas uma meia verdade. De fato, quando a conheci, no final da década de 60, início dos 70 (pois é, eu sou antigo, né?), eu era muito underground e só queria saber de Janis Joplin, Billie Holiday que a minha geração estava redescobrindo e que eram cantoras "sujas" cheias de paixão e arrebatamento. Barbra, em contraste, era tecnicamente impecável, límpida, sem nenhuma nota fora do lugar, nenhum semitom, o que nos parecia frio. Contraditóriamente ela me ganhou no cinema com a música "careta" da Broadway em filmes como Funny Girl e Hello Dolly onde ela marcava presença não só como cantora mas tambem com uma personalidade absolutamente original como atriz. Ela se firmou no cinema nesta época e me lembro de uma comédia maluca e charmosa chamada What's Up, Doc e de um hit romântico The Way We Were, no qual ela com seu tipo completamente destoante do padrão de beleza de Holywood, não se intimidava em formar par com Robert Redford na época um ícone de beleza tão forte quanto Brad Pit nos seus melhores dias.

    Mas os anos passaram e nada na carreira dela de cantora chamou especialmente a atenção como você mesmo diz, até que no princípio dos anos 90, acho, eu a ví na TV num show em New York. Me pareceu com uma voz mais emcorpada, a velha e impecável técnica mas num estilo mais exuberante e espontaneo que comunicava o puro prazer de cantar. Foi a vez que eu mais gostei dela como cantora. Ela continuou fazendo filmes sempre interessantes inclusive o sensível e tocante Yentl no qual era roteirista e diretora, levando o Golden Globe como melhor direção, mas não o Oscar, pois parece não ser muito querida pela "classe" . Talvez por algum excesso de personalismo. Mas ela continua sendo o grande talento que sempre foi mesmo que às vezes cometa equívocos como o dueto com Celini Dion que você tão apropriadamente qualificou como "assustador".

    Mas eu não posso deixar de mencionar que o seu blog continua sendo um prazer de leitura. Diversificado e bem escrito como este artigo da Barbra e o de hoje sobre esta instigante Mayra Andrade e bem tranzado visualmente como o do Louis Comfort Tifanny.

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