Apesar de o ambiente musical estar cada vez mais americanizado, ‘beyoncezado’ e ‘britneyzado’ (isso dói!), existem ainda cantos de criatividade em que melodia não rima obrigatoriamente com batidas frenéticas e afinação vocal com voicoder. As três cantoras seguintes, embora à primeira vista não apresentem nada em comum, merecem ser destacadas pela qualidade do trabalho que produzem e por, de várias formas, tecerem mais uma ligação entre o Brasil e a França.
Barbara Carlotti está se apresentando esta semana nos palcos de São Paulo dentro da programação do Ano da França no Brasil. Após um primeiro disco, Les lys brisés (Os lírios partidos), que foi muito bem recebido pela critica, Barbara Carlotti lançou em 2008 o CD L’idéal, que foi consagrado entre as melhores produções francesas daquele ano. O trabalho da cantora mistura com perfeita harmonia a tradição literária francesa com a música pop anglo-saxônica, o que fez com que Carlotti fosse comparada à cantora Nico. Barbara Carlotti se apresentou no Bourbon Street e tem ainda dois shows marcados para os dias 5 e 6 de agosto, no Sesc Vila Mariana e no Sesc Santo André.
Não é mais necessário apresentar Zélia Duncan. A cantora vem desenvolvendo com serenidade e muito bom gosto uma carreira sempre original e pessoal, em que sabe equilibrar composições pessoais, influências (entre as quais o legado fundamental de Itamar Assumpção) e projetos originais, como a participação na reunião dos Mutantes ou a parceria com Simone. Zélia acaba de lançar seu novo trabalho, Pelo sabor do gesto, produzido, entre outros, por John Ulhoa, da banda Pato Fu. O disco tem a particularidade de apresentar duas ótimas versões que Zélia escreveu para canções que o compositor francês Alex Beaupain fez para o filme de Christophe Honoré Canções de amor, que obteve o César de melhor trilha original em 2008. Inspirando-se tanto na chanson tradicional quanto no som dos anos 1980 ou ainda no jazz, Beaupain está se impondo como um dos mais originais compositores e intérpretes da nova geração francesa.
Por sua vez, a cantora Céu está lançando seu segundo trabalho, denominado Vagarosa. Após um primeiro disco particularmente elogiado e que teve ótima divulgação, Céu volta com um trabalho que segue a mesma linha. As composições, essencialmente inspiradas na música popular brasileira, são otimamente servidas por modernos arranjos e pela utilização de grooves climáticos. A voz de Céu tece uma envolvente teia em que o ouvinte se deixa prender com o maior prazer. Embora profundamente brasileiro na sua essência, o trabalho de Céu remete também a uma tradição mais européia de conceber o canto e a música. Além disso, referências como Massive Attack ou Serge Gainsbourg são onipresentes. Aliás, não é de surpreender que, assim como Cibelle, Céu tenha sido descoberta e lançada na Europa antes de aportar na mídia brasileira.
Na virtude do virtual, na instância do momento em que vivemos, na urgência da expressão resolvi blogar como outros surfam. Porque dizer é expressar a cuca, é dar brilho à tez, é fazer da tensão o tesão ou a ternura. Porque não há nada melhor que a comunicação, mesmo que escassa ou fragmentada ou relâmpago.
Francês, advogado radicado há mais de 10 anos no Brasil. Amante das artes, de boa comida, bons vinhos, belas amizades e boas conversas (independentemente da ordem...)
eric, você devia escrever crítica de música para jornais. você é melhor que muitos carinhas que se metem a fazer isso...
ResponderExcluirbeijim.
fafá