Claude Nougaro (1929-2004) foi sem dúvida um dos nomes mais importantes da música francesa dos últimos 50 anos. Nascido em uma família de músicos (o pai era cantor lírico e a mãe pianista), ele começou sua carreira no fim dos anos 1950, em parceria com Michel Legrand, e obteve seus primeiros sucessos no meados dos anos 1960, com músicas como “Une petite fille” e “Cécile, ma fille”. Os anos seguintes vão ser marcados pela colaboração de Nougaro com o pianista de jazz Maurice Vander, com o qual trabalhará por toda a sua carreira. Nougaro sempre procurou a excelência musical, o que o levou a colaborar com ótimos músicos nacionais e internacionais, entre os quais, Eddy Louiss, Pierre Michelot, Michel Colombier, Michel Portal, Aldo Romano, Didier Lockwood, Ornette Coleman e, ainda, Marcus Miller.
Nougaro sempre foi notável pela excepcional qualidade de suas letras e pela forma como soube transcender a sempre difícil arte de fazer versões de canções estrangeiras sem deturpar a essência primeira das obras. Assim, além do jazz – Nougaro escreveu letras em francês para obras de Charles Mingus, Thelonious Monk, Wayne Shorter, Louis Armstrong, Dave Brubeck, Sonny Rollins –, outros ritmos tiveram uma influencia inegável na carreira dele: a música africana, principal inspiração do magnífico disco Locomotive d’or (1973), e a música brasileira. Em 1963 Nougaro veio ao Brasil, e então começou uma história de amor com a música popular brasileira. Essa relação o fez escrever lindas versões para o francês de músicas como “Berimbau” (Vinícius de Moraes/Baden Powell), “O que será” (Chico Buarque) e “Viramundo” (Capinan/Gilberto Gil), que se tornaram grandes sucessos na voz do cantor, além de trabalhar com Baden Powell, então radicado na França.
Dotada de uma das mais belas, profundas e afinadas vozes atuais, e de incontestável presença cênica, Maurane vem desenvolvendo uma bem-sucedida carreira com mais de dez discos, entre os quais os excelentes Ça casse (1991), Toi du monde (2000) ou ainda Quand l’humain danse (2003), em que mistura com muito êxito influências da chanson, do jazz, do swing e de ritmos de outros países. Assim como Nougaro, Maurane sempre se aproximou da música brasileira e, ainda em 1989, gravou duas faixas, “Pas gaie la pagaille” e “Fais soleil”, com a participação de Les Étoiles, dupla de cantores brasileiros que teve muito sucesso na França nos anos 1970 e 1980.
Maurane nunca escondeu que uma de suas maiores influências tenha sido Claude Nougaro, e não é surpreendente que esteja agora prestando sua homenagem ao artista neste novo disco. Como escreve no seu site http://www.maurane.be/ a respeito desse projeto: “A obra de Claude me marcou profundamente por sua poesia, musicalidade e a sensualidade que ele mostrava no palco. [...] Antes de mais nada, Claude era um esteta, um homem dedicado à beleza...”
Com os arranjos, swingados mas também delicados, de David Lewis, Fred Pallem, Louis Winsberg, Dominique Cravic e Les Primitifs du Futur, Maurane relê de forma magnífica 16 canções do compositor, entre as quais “Armstrong”, “Toulouse”, “La pluie fait des claquettes” ou “Il faut tourner la page”. De novo, a música brasileira está presente nas interpretações de “Tu verras” (O que será), com a participação do cantor Calogero, e “Bidonville” (Berimbau”). Trata-se de uma belíssima homenagem e ótima introdução ao universo desses dois grandes artistas da música francesa contemporânea.
O site www.maurane.be dá maiores detalhes sobre a produção desse disco, e reproduz também as letras das canções, sendo assim uma ótima ferramenta para conhecer melhor a poesia de Nougaro.
Quem quiser descobrir o universo de Maurane poderá ouvir várias faixas de sua carreira na página www.myspace.com/mauraneofficielmyspace
A versão ao vivo de “Armstrong” por Maurane está disponível no site YouTube http://www.youtube.com/watch?v=cot8XhWF28A e a mesma música na emociante interpretação de Nougaro pode ser vista na página http://www.dailymotion.com/video/xovzq_claude-nougaro-amstrong_music
O site oficial de Claude Nougaro http://www.nougaro.com proporciona uma descoberta por década da carreira do artista, além de disponibilizar trechos de entrevistas e links para outros sites.